AS BRUXAS
Os yorùbás
acreditam em bruxas. Diz à tradição que ao escrever sobre as bruxas deve-se
tomar muito cuidado para não mentir. O que aqui dizemos são as verdades ouvidas
dos mais velhos.
Só as
mulheres podem ser bruxas. É muito difícil, entretanto, alguém confessar
espontaneamente essa condição. Em geral as bruxas são más, mas existem bruxas
boas.
Como as pessoas viram bruxas?
Sabe-se que as bruxas são
filhas de bruxas.
Quando crianças elas
desconhecem sua condição. Só quando chegam à idade adulta é que começam a tomar
consciência das suas características diferentes. Quando uma bruxa está para
morrer, chama a filha de que mais gosta e transmite-lhe sua força e todos os
seus poderes, através da boca.
Algumas
mulheres querem ser bruxas, mesmo sem serem filhas de bruxa. Elas procuram
entrar para a Sociedade Secreta das Bruxas. Para isso é preciso satisfazer uma
série de condições. Algumas conseguem ser aprovadas, e tornam-se bruxas.
A Sociedade Secreta das Bruxas reúne-se de madrugada,
para realizar vários rituais. Elas trabalham com o coração, isto é, o corpo
fica na cama dormindo e o coração sai. Se acontecer alguma coisa com o coração
quando uma bruxa estiver trabalhando, a pessoa morre, pois o corpo que ficou na
cama, sem coração, nunca mais acordar.
Por que as pessoas têm medo das bruxas?
Acredita-se que as bruxas são
más, invejosas, e podem matar cegar ou fazer alguém ficar paralítico. Embora
nem sempre isso seja verdade, essa crença causa medo na maioria das pessoas.
Hoje em dia com a “moda” das
entidades sobrenaturais, como duendes, fadas, gnomos, bruxas, etc. esse medo
diminuiu, e a figura da bruxa tornou-se simpática na nossa cultura. Entretanto
na cultura africana a ideia de bruxa é bem diferente da nossa.
Como fazer para reconhecer uma
bruxa?
Para os Yorùbás é fácil
reconhecer a presença de uma bruxa. Quando aconteciam muitas coisas ruins numa
família, os chefes sabiam que era coisa de bruxa, e avisavam a “quem estivesse
fazendo isso”, que deveria parar. Caso continuassem acontecendo coisas más,
recolhia-se dinheiro de todas as mulheres da família para fazer uma obrigação,
que tinha por finalidade descobrir quem era a bruxa. No dia marcado todas as
mulheres deveriam comparecer. O chefe da família rezava e dava-lhes obi para
comer. Cada uma devia se ajoelhar, jurar que não era a bruxa e comer o obi. Se
alguma delas fosse bruxa, dentro de três dias começava a falar
involuntariamente sobre todo o mal que vinha causando à família ao longo dos
anos.
As bruxas descobertas com esse
método eram punidas de acordo com o costume de cada localidade.
Será que todas as bruxas eram
más?
Existiam bruxas boas, que
só usavam bruxaria para ajudar algum membro da família que estivesse
precisando, ou alguém doente.
Ninguém
sabia que havia uma bruxa na família, mas se alguém a denunciasse, ou se por
algum motivo fosse descoberta, o marido testemunhava diante do rei que desde
que ela chegou, na sua casa só aconteceram coisas boas, e
sua vida melhorou. O rei e todos na cidade passavam a rezar por ela, e era
perdoada.
Como as bruxas eram punidas?
Em cada localidade havia uma
punição diferente. Dentre as várias maneiras tradicionais de se punir as
bruxas, vamos relatar duas: Havia no mato uma planta chamada “árvore de
macaco”. Quem bebesse o suco dessa planta, morreria. Se alguma mulher fosse
presa como bruxa, davam-lhe esse líquido para beber. O corpo era levado para
uma floresta fora da cidade.
Outra forma era chamar as
crianças da cidade para atirar pedras na bruxa, até ela sair da cidade. Em cada
cidade as crianças iam fazendo o mesmo, até ela morrer. O corpo era comido
pelos cachorros.
As
famílias das bruxas ficavam muito envergonhadas, e saiam da cidade, indo viver
em outra localidade. Só depois de vinte ou trinta anos é que poderiam voltar a
morar naquela localidade sem ter problemas.
Hoje em dia as mulheres não se
dedicam mais a fazer bruxarias, mas ninguém pode afirmar que as bruxas estão
completamente extintas da terra yorùbá...
É interessante procurar conhecer
as sociedades religiosas dos yorùbás. A Sociedade Gelede, por exemplo, composta
de devotos das àje (feiticeiras), é representada pelas Iya-Mi (minha
mãe), o que demonstra o grande poder oculto das mulheres.
Milhares de acusadas de bruxaria vivem em campos isolados em Gana
ResponderExcluirKatie Whitaker
Da BBC News em Kukuo, Gana
Atualizado em 3 de setembro, 2012
Em Gana e em outros países africanos, quando desastres atingem vilarejos, a busca por explicações acaba levando a bodes expiatórios – as chamadas bruxas.Mulheres excêntricas ou extrovertidas – muitas vezes idosas – costumam ser os alvos mais fáceis, e os casos normalmente terminam com a expulsão da "culpada".
Atualmente, existem seis campos de bruxas espalhados por Gana, com até mil mulheres em cada um deles.
Neles, mulheres exiladas de seus povoados podem viver sem medo de espancamentos, tortura ou até linchamento.
Isto é, se forem consideradas inocentes ou passarem por um ritual de purificação.
No campo de Kukuo, recém-chegadas primeiro precisam comprar uma galinha de cores fortes como oferenda ao religioso chefe.
Agachado, o velho sacerdote murmura algumas palavras antes de cortar a garganta da ave. Se ela cair de costas, é sinal de que a "bruxa" é inocente e está pronta para ser purificada com água benta.
Caso contrário, a "bruxa" precisa beber uma poção purificadora feita com sangue de galinha, crânio de macacos e terra.
Mas, para o exorcismo funcionar, a mulher não pode ficar doente nos próximos sete dias. Se ficar, tem de tomar a poção novamente.
ResponderExcluirEmbora a tradição dos campos de bruxas aparentemente seja exclusiva de Gana, o costume de encontrar no suposto uso de magia negra explicações para desastres é comum em várias partes da África.
Samata Abdulai
Histórias como a de Samata Abdulai, forçada a abandonar o seu povoado aos 82 anos, são comuns.
Abdulai hoje vive no campo de Kukuo em um dos vários barracos cheios de goteiras e sem acesso a eletricidade ou a água corrente.
Para conseguir água, ela e as outras "bruxas" do campo andam cerca de 5 km diariamente até o rio Otti, carregando os jarros sozinhas.
Uma vida bem diferente do relativo conforto de que desfrutava no vilarejo de Bulli, a cerca de 40 km do campo, onde a vendedora de roupas de segunda mão aposentada cuidava de suas netas gêmeas, enquanto a filha trabalhava nas plantações de algodão.
O destino da idosa mudou após um de seus irmãos acusá-la pela morte de sua filha, supostamente causada por uma maldição lançada por Abdulai.
"Fiquei confusa e cheia de medo, porque sabia que era inocente. Mas também sabia que, uma vez que começam a te chamar de bruxa, a sua vida está em perigo. Por isso, não perdi tempo, juntei as minhas coisas e fugi do povoado", contou à BBC.
"Quando você é acusada de bruxaria, é uma perda de dignidade. Para ser sincera, tenho vontade de simplesmente acabar com a minha vida."
Um relatório da organização não-governamental ActionAid publicado recentemente afirma que mais de 70% das moradoras do campo de Kukuo foram acusadas de feitiçaria e expulsas após a morte dos seus maridos.
Para muitos, isso é um sinal de que as acusações de bruxaria são uma forma velada de a família se apropriar dos bens da viúva.
"Os campos são uma manifestação dramática da condição da mulher em Gana", afirmou o professor Dzodzi Tsikata, da Universidade de Gana.
"Idosas viram alvo porque não são mais úteis à sociedade."
Para o grupo de direitos das mulheres Songtaba, aquelas que não se adaptam às expectativas da sociedade também acabam vítimas de acusações de feitiçaria.
"A expectativa sobre mulheres é de submissão, então, quando elas começam a dar muitas opiniões ou mesmo ser bem-sucedidas em seu ramo, começam as acusações de serem possuídas", afirma o acadêmico.
Uma das irmãs mais novas de Abdulai, Safia, de 52 anos, também mora no campo para ajudar a própria mãe e a avó, ambas expulsas do vilarejo.
"Elas não são bruxas, isso é ódio, inveja e uma forma de se livrar de você", afirma.
O governo de Gana sabe que a existência dos campos macula a reputação dessa que é uma das democracias mais progressivas e economicamente vibrantes na África. Por isso, no ano passado, afirmou que tomaria medidas para acabar com eles, provavelmente, em 2012.
O problema é que não se pode simplesmente mandar as mulheres de volta a seus vilarejos.
"Temos que trabalhar muito com as comunidades para que possam voltar sem serem linchadas ou novamente acusadas, se, por exemplo, uma vaca pula uma cerca e derruba alguma coisa", afirmou Adwoa Kwateng-Kluvitse, diretora da ActionAid em Gana.
Na opinião da ativista, isso pode levar entre 10 e 20 anos."
Acho engraçado que sobre essas e outras barbaridades da África atual ninguém escreve. Mas a utopia, por demais idealizada, é uma constante. A meu ver a desmistificação da África é muito bem vinda.
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