sábado, 16 de junho de 2012

Como ERÍNLÈ transformou-se num rio


Erínlè é uma divindade Yorubá cujo culto se localiza junto do rio com o seu nome, um afluente do rio Òsùn que atravessa Ìlobùú, uma cidade do sul da Nigéria Ocidental, Ogbomoso e Osógbo.

Òrúnmìlà consultou Ifá, antes de deixar Ifé, para ir-se a um país de vales. Os adivinhos lhe disseram: “Neste país de vales, onde pretendes ir, encontrarás um bom amigo”. “Deves fazer oferendas antes de partir, para que tua viagem seja feliz.” Òrúnmìlà fez as oferendas. Ele ofereceu quatro pombos e oito mil búzios da costa. Quando ele chegou lá, quando Òrúnmìlà chegou naquele país de vales, ele tomou-se amigo de Erínlè.

Erínlè é um caçador.
Erínlè é também um guerreiro.
Erínlè é, além de tudo, um òrìsà.
Esta amizade foi grande.
Erínlè tomou dinheiro emprestado a Òrúnmìlà.
O montante deste empréstimo foi de doze mil búzios.

Quando chegou a hora de Òrúnmìlà retornar à casa de Ifé, Erínlè teria de reembolsar o empréstimo. Mas ele não tinha dinheiro. Ele sentiu vergonha e foi consultar Ifá:
"Onde poderei encontrar este dinheiro?"
Os adivinhos lhe aconselharam a oferecer um carneiro, um galo e um cachorro. Disseram-lhe, ainda, que deveria oferecer vinte e um sacos de búzios da costa.  Erínlè exclamou:
“Ahl Já devo doze mil búzios”!
Onde poderei encontrar todas estas coisas?"
Erínlè tinha um talismã nas mãos. A qualquer momento ele poderia, graças a este talismã, transformar-se em água. Quando ele assim o desejasse.

Erínlè foi, então, ao lugar onde costumava caçar. Pôs o talismã no chão e entrou terra adentro. Neste lugar havia uma jarra com água. Seus filhos o procuraram durante muito tempo. Eles foram consultar Òrúnmìlà para que ele examinasse o caso.  Òrúnmìlà lhes disse:
“Façam oferendas para encontrar vosso pai”. Talvez não o vereis mais, mas encontrarão um sinal dele."Disse-Ihes, ainda, que oferecessem sete cachorros, sete carneiros, sete galos e vinte e um sacos de búzios da cota.
Os filhos de Erínlè fizeram as oferendas.  Òrúnmìlà lhes dissera, também, que deveriam ir com os carneiros, os cães e os galos, chamar pelo pai e eles foram. Percorreram todos os lugares onde Erínlè costumava ir. Quando chegaram ao local onde Erínlè entrara terra adentro, encontraram seus instrumentos de caça: fuzil, lança, arco e flechas. Todo o material que ele usava para caçar. E, bem no meio disso tudo,  eles viram a jarra com água.  Esta água começou a escorrer. Esta água era abundante. Os filhos saudaram o pai assim:
"Oh! , Erínlè o caçador, retorne à casa!
Nós oferecemos carneiro, cachorro e galos!
“E chamaram Erinlê, sem descanso”.
Quando eles ofereceram estas coisas, o rio os seguiu no caminho de casa.  Erínlè lhes disse para deixar os galos livres, no lugar onde os encontraram. Os galos que naquele dia eles deixaram livres, são os galos que  Erínlè cria perto de seu rio, até hoje. Ninguém ousa matá-los. Certa vez, pessoas ignorantes mataram alguns. Mas os galos ressuscitavam sempre. Desde que o prato estivesse pronto,
os galos saltavam da tigela, batiam novamente suas asas - Puf! Puf! Puf! E iam empoleirar-se numa árvore Akô, cantando de novo seu cocoricô!
No mesmo momento em que, o Erínlè rio, se pôs a correr, Òsún preparava-se para partir da cidade de Ijumu. Ela também se pôs a correr. E eles se encontraram perto de Edé. Ali onde se encontraram, o leito  ,estes rios é suave - eles estão felizes. Suas águas formaram um grande rio e o curso de ambos tomou-se um mesmo. Juntos, eles correm para a lagoa.


Lendas Africanas dos Orixás,
PierreVerger/ Carybe e Corrupio.

sábado, 9 de junho de 2012

Como Òsún ganhou o título de protetora das crianças

Òrúnmìlà, òrìsà da sabedoria e da adivinhação, foi o primeiro esposo de Òsún. Um relato do odu, um dos 256 signos do sistema de Ifá, conta que  deu a Òrúnmìlà ela 16 búzios como presente de núpcias, ainda hoje usados pelos sacerdotes de  Òsún para se comunicarem com o Òrún em favor de seus seguidores.  Òrúnmìlà também permitiu à bela Òsún que fosse cultuada no mesmo dia que ele.
Infelizmente, Òsún não ficou grávida durante o casamento. De acordo com as tradições africanas, tal fato é uma desgraça, pois filhos é a prioridade de todo casal. Já aflita com a situação, ela resolveu dar a seu marido o direito de ter filhos e, relutantemente, deixou Òrúnmìlà.
Nove meses depois, Òsún conheceu seu segundo esposo: Osoosì. Os dois descobriram instantaneamente que suas personalidades se completavam, e foram muito felizes como marido e mulher. Entretanto, sua adoração um pelo outro não remediou a incapacidade de Òsún em conceber filhos de seu novo marido. Muito desapontados, eles realizaram vários rituais, sem conseguir nenhum proveito. Mas Òsún não desistiu. Ela conversou com Osoosì e ambos concordaram que ela deveria voltar para o seu primeiro marido, o adivinho Òrúnmìlà pedindo que ele consultasse Ifá para apurar o que estava acontecendo.
Quando Òsún chegou à casa de Òrúnmìlà, ele ficou feliz em vê-La e foi imediatamente consultar Ifá. Òrúnmìlà assegurou a Òsún que esta história de não ter filhos iria logo terminar. Sua solução estava no palácio de Òrún, o mundo espiritual: era para lá que Òsún deveria viajar a fim de buscar sua cura. Sua esterilidade se transformaria em fertilidade, e Olodumaré, deus supremo, abriria as portas para as crianças virem ao mundo. O adivinho aconselhou Òsún a reunir os itens que haviam saído no jogo, para que se oferecesse um sacrifício especial em sua intenção. Assim foi feito
Quando se deu por conta, Òsún estava no Òrún escutando a voz de Olodumaré, que perguntou a ela qual a razão de estar ali. Òsún ficou atônita, e Olodumaré pediu que se acalmasse. Depois de oferecer a Òsún um lugar para se sentar, Ele começou a contar histórias de seres que vinham ao Òrún para fazer pedidos semelhantes, lembrando que as crianças do Òrún fugiam deles sem razão aparente.
Então Olodumaré abriu a porta de onde as crianças estavam. Era a visão mais linda que se poderia ter. Òsún olhou maravilhada para uma multidão de meninos e meninas, que corriam para cima e para baixo, em grande algazarra. Quando as crianças viram Òsún, correram em sua direção. Ela então lhes ofereceu doces, e assim mais e mais crianças aglomeravam-se ao seu redor. Todos foram seguindo Òsún, que se encaminhava para a divisa entre o Òrún (mundo espiritual) e o Àiyé (mundo material). Porém, logo que chegaram a este ponto, as crianças pararam abruptamente. Òsún deu às crianças as últimas gostosuras do pote no topo de sua cabeça e voltou para o mundo material.
Na sua chegada, entretanto, Òsún notou que as crianças não a haviam acompanhado e começou a chorar. Ela se debulhou em lágrimas.  
Òrúnmìlà aconselhou Òsún a não mais chorar, dando-lhe parabéns. Ele lhe contou que ela estava grávida e deveria parir logo. Òsún ficou grávida de três meses, outras mulheres estéreis também engravidaram. E, quando a gravidez atingiu o nono mês, nada podia segurar os recém-nascidos que vinham ao mundo. Òsún usou ainda seus segredos para baixar a febre de seus filhos.  Òrúnmìlà recomendou que as mulheres fizessem oferendas em favor de suas crianças e também de Òsún para demonstrar sua gratidão. 



Toda vez que estas oferendas são entregues, deve-se entoar uma cantiga cujo significado é: “Saudações à Grande Mãe; aquela que usa joias de bronze para acalmar a criança”.
Òsún passou a ser venerada na terra yoruba. Ela curou a febre de todas as crianças, que não tiveram nenhuma dificuldade desde então. Foi assim que Òsún ganhou o título de Irunmalé Olomowewê, divindade protetora das crianças.



sábado, 2 de junho de 2012

PÈRÈGÚN

PÈRÈGÚN, erva gún, uma das folhas mais antigas é o “Pèrègún”, que é utilizada na grande maioria dos rituais aos Òrìsás. Diz o mito: Pèrègún presenciou o crescimento da humanidade. Sempre há de nos trazer a sorte. Pèrègún segura nossa sorte, segura a sua presa no dia de caça... E assim... Alimenta os seus filhos. Pèrègún nos protege de nossos opositores... E faz com que nos harmonizemos com os nossos semelhantes... Pèrègún fez pacto com “Aje” para a sua vinda à Àiyé ( Terra ou o mundo físico, paralelo ao orun )... Ifá dissera, quando Pèrègún o procurava pela sorte Pèrègún, se você quiser ter sorte, deverá ajudar a humanidade, fazendo um pacto com “Aje”, para poder sempre ter e poder emanar sorte, para quem lhe procurar por sua ajuda. Foi então, que Pèrègún tinha feito pacto com “Aje” antes de vir ao mundo, mas não tinha quem o pudesse levar para Àiyé. Novamente foi a Ifá, e este dissera: Pèrègún se você quiser realizar o seu trabalho em Àiyé procure por “Ògún”, pois ele sempre está indo para Àiyé. Pèrègún procurou por “Ògún”, mas ele só levaria Pèrègún, se ele dividisse a sua sorte com ele. Foi então que Pèrègún tinha aceitado, e por essa razão “Ògún” lhe dissera: “Vou dizer a toda humanidade, que Pèrègún emana a sorte, e quem com ele ficar será agraciado com a mesma”. Desde e Pèrègún então foi conhecido, e muito procurado por todos em Àiyé.
Pèrègún alára gígún o
Pèrègún alára gígún o
Oba kò ní jé o roró okán
Pèrègún alára gígún o
Pèrègún gbà agbára tuntun


Pèrègún tem o corpo excitado
Pèrègún tem o corpo excitado
Rei não deixa ter problemas de coração
Pèrègún tem o corpo excitado
Pèrègún dá nova força
PÈRÈGÚN NÍ Í PE IRÚNMOLÈ L’ÁT’ÒDE ÒRUN W’ÁYÉ! (É Pèrègún que chama os espíritos do além para a terra!)
PÈRÈGÚN WÁ LO RÈÉ PE AJÉ TÈMI WÁ L’ÁT’ÒDE ÒRUN!
(Pèrègún, agora vá e chame minhas riquezas do além!)
Nesta preparação encontramos referência a uma folha, conhecida pela maioria de nós: o Pèrègún, cujo nome é a contração do verbo “PÈ”, que significa chamar, com a palavra “EGÚN”, que significa espírito, ancestral, etc. Percebe-se então que esta folha tem a finalidade de “chamar (invocar) espíritos”, e que a própria pronúncia de seu nome já funciona como um ofò!. A sabedoria daqueles nossos ancestrais yorubanos que a elaboraram fez esse trocadilho: se Pèrègún pode chamar espíritos, pode chamar a riqueza!
Para algumas pessoas, principalmente para aquelas que não estão ligadas aos cultos de matriz africana, pode parecer um tanto “primitivo” pensar dessa maneira, digo, esperar resultados a partir da utilização de certas plantas, de sementes, etc., enfim de elementos da natureza, aparentemente inanimados. No entanto, repetimos, existe por traz da utilização desses elementos uma questão cultural. Eles se utilizam desses elementos da natureza acreditando que eles expressam as suas necessidades perante o “Criador”, o destino final de seus pedidos: “…Uma composição mágica parece ser considerada como uma coleção de coisas materiais, às quais é dado um valor simbólico; juntas constituem uma mensagem…” (Ewé, Pierre Verger, 1995)

Asé.