sábado, 14 de abril de 2012

ÒSÚN

Òsún é à força dos rios, que correm sempre adiante, levando e distribuindo pelo mundo suas águas que matam a sede, seus peixes que matam a fome e o ouro que eterniza as ideias dos homens nele materializadas. Como as águas dos rios, a força de Òsún vai a todos os cantos da terra. Ela dá de beber as folhas de ÒSÁNYÌN, esfria o aço forjado por ÒGÚN. Como acontece com as águas nunca se pode prever o estado em que encontraremos Òsún, e também não podemos segura-la em nossas mãos. Assim Òsún é o ardil feminino. A sedução. A deusa que seduziu a todos os òrìsàs masculinos. Mãe da água doce, o olho d água, deusa da meiguice, dos sentimentos doces, maduros, sinceros, honestos, dona do ouro. Òsún é a paz no coração, é o saber, o mimo. Òsún rege o charme, tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Òsún. Ela está ligada à magia ao feitiço. Os filhos de Òsún são muito ligados às Ìyámi Òsòróngá, feiticeiras. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Òsún são tão poderosos nesta arte. O poder de Òsún é materizado nas mulheres através das Àjès, as mais temidas, as mais poderosas e as mais reverenciadas mulheres no culto Yorùbá. Òsún está ligado ao processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre- Èsú entrega a regência para Òsún, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Òsun que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia no útero da mãe. É Òsún que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água. É sem dúvida, uma das regências mais fascinantes, pois é o início, a formação da vida. E Òsún que tomará conta até o nascimento, quando, então, entregará para Yemonjá, que dará destino àquela criança.
Òsún sempre foi uma menina muito carinhosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o Deus da brancura (Òrìsà Funfun ). Sempre que Orìsálá queria saber de algo, consultava Òrúnmìlá. O senhor da adivinhação, para que ele visse o destino a ser seguido. Òrúnmìlá por sua vez, sempre dizia à Orìsálá:
- Pergunte a Èsú, pois ele tem o poder de ver os búzios! E este acontecimento se repetia a cada vez que Orìsálá precisava saber de algo. Isto intrigou Òsún, que pediu para aprender a ver o destino. E Orìsálá disse à filha:
-Òsún, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Èsú o conhecimento de ler e interpretar os búzios.Isto não pode lhe dar!
Curiosa Òsún procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Èsú e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Èsú! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Èsú respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
 Èsú estava intransigente. Òsún sabia disso e sabia que não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Ìyámi Òsòróngá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Èsú eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Ìyámis, empoleiradas nas árvores.Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram à jovem Òsún:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Òsún, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Èsú e descobrir o segredo dos búzios
As Ìyámis, há muito querendo ‘’pegar Èsú pelo pé``, resolveram investir na jovem Òsún ensinando-lhe todo o tipo de magia,mas advertiram que, sempre que Òsún usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Òsún concordou e partiu.
Em seu reino, Orìsálá já se preocupava com a demora de Òsún que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Èsú. Ao encontrar-se com este, Òsún insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Èsú?
- Não e não! Foi sua resposta.
Òsún, então, com a mão cheia de pó brilhante, mandou que Èsú olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Èsú chegou perto e fixou o olhar. Òsún, num movimento rápido,  abriu a mão e soprou o pó no rosto de Èsú, deixando-o temporariamente cego.
- Ai!Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava èsú:
Òsún, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a èsú:
- Eu os procuro, quantos búzios Forman o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16 Èsú? E por que seriam 16?
- Ora, ora, por que 16 são os Odus de cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
-Ah! Sei. Olha Èsú, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai!Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Èsú; Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá...
E assim foi até chegar ao ultimo Odu, inteligente, Òsún quardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Èsú com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que esta menina me passou para trás!
No reino de Orìsálá, Òsún disse ao seu pai, que procurara as Ìyámis, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de  Èsú o segredo do jogo de búzios. Ifá, o senhor da adivinhação, admirado pela coragem de Òsun, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Èsú. Assim, Òsún é também a força da vidência feminina.


                               Templo de Òsún em Osogbo – Nigéria- África

                           Festival de Òsún em Osogbo - Nigéria - Àfrica

Laços muito estreitos existem entre Òsún e os reis de Osogbo. Neste lugar, a festa anual das oferendas a Òsún é uma comemoração pela chegada de Larô, fundador da dinastia, às margens deste rio cujas águas correm permanentemente. Larô, depois de muitas atribulações, achando o lugar favorável ao estabelecimento de uma cidade, aí se fixou com sua gente. Alguns dias depois de sua chegada, uma de suas filhas foi se banhar num rio e se perdeu sob as águas. Reapareceu no dia seguinte, soberbamente vestida, declarando ter sido muito bem acolhida pela divindade do rio.
Larô, para demonstrar sua gratidão, dedicou-lhe oferendas. Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer em sinal de aceitação, as comidas que Larô havia jogado nas águas. Um grande peixe que nadava próximo ao local onde este se encontrava cuspiu-lhe água. Larô recolheu esta água numa cabaça e bebeu, fazendo assim um pacto de aliança como rio. Estendeu, depois, as duas mãos para frente e o grande peixe saltou sobre elas. Larô recebeu o título de Ataojá - contração da frase Yorubá: A tewo gba ejá, "Ele estende as mãos e recebe o peixe" - e declarou: Òsún gbò, "Òsún está em estado de maturidade", suas águas serão sempre abundantes, esta foi a origem do nome da cidade Osogbo.

No dia da festa anual, Ataojá vai solenemente até as margens do rio. Sua cabeça é coberta por uma coroa monumental feita com pequenas miçangas reunidas e é vestido com pesada roupa de veludo. Anda com calma e gravidade, rodeado por suas mulheres e seus dignatários. Uma de sua s filhas leva, nesta procissão anual, a cabaça contendo os objetos sagrados de Òsún. É a Arugbá Òsún, "aquela que leva a cabaça de Òsún". Ela representa a moça que outrora desaparecera no rio. Sua pessoa é sagrada, e o próprio rei inclina-se à sua frente. Depois que atinge a idade da puberdade ela não pode mais preencher essa função. Mas, pela graça de Òsún, a descendência de Ataojá é sempre numerosa, não faltando, pois, a possibilidade de se encontrar uma Arugbá Òsún disponível. Ataojá senta-se numa clareira e acolhe as pessoas que vem assistir a cerimônia. Os reis e os chefes das cidades vizinhas estão todos presentes ou enviaram representantes. As delegações chegam uma após a outra, acompanhadas por tocadores de tambores. Trocas de saudações, prosternações e danças sucedem-se como formas de cortesia recíproca, com animação crescente. Ao final da manhã, Ataojá, acompanhado pelo seu povo e pelos seus hóspedes, aproxima-se do rio e aí manda lançar oferendas e comidas, no mesmo lugar onde Larô o fizera outrora. Os peixes as disputam sob o olhar atento das sacerdotisas de Òsún. Ataojá dirige-se, a seguir, até as proximidades de um pequeno templo vizinho e senta-se sobre a pedra onde seu ancestral Larô havia repousado em outros tempos. A adivinhação é feita para saber se Òsún está satisfeita e se ela tem alguma vontade de exprimir. Ataojá volta em seguida para a clareira, onde recebe e trata seus convidados com uma generosidade digna da reputação de Òsún, a rainha de todos os rios.
É recomendável fazer sacrifícios de cabra a Òsún e oferecer-lhe pratos de Omolokun (mistura de cebolas, feijão de espécie fradinho, sal e camarões), de Adúm (farinha de milho misturada com mel de abelha e azeite doce). A sua dança lembra o comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora que vai ao rio para se banhar, enfeita-se com colares, agita os braços para fazer tilintar os seus braceletes, abana-se graciosamente e contempla-se com satisfação num espelho. O ritmo que acompanha as suas danças denomina-se Ijesá, nome de uma região da África, por onde corre o rio Òsún.

ORÍKÌ Òsún

Ìba Òsún sekese
Ìba Òsún olodi
Latojoki awede we’mo
Ìba Òsun ibu kole
Yeye kari
Latokoko awede we’mo
Yeye opo
O san rere o
Àse

Tradução:
Eu elogio a deusa do ministério, espírito que limpa de dentro para fora,
Eu elogio a deusa do rio
Espírito que limpa de dentro para fora
Eu elogio a deusa da sedução
Mãe do espelho
Espírito que limpa de dentro para fora
Mãe da abundância
Nós cantamos seus elogios
Axé

Orê Yeyê ô!

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