quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Qualidades ou Caminhos ?


Simplesmente expus neste texto, alguns conhecimentos no Culto aos òrìsàs. Não tenho intenção ou pretensão de agredir ninguém. Existe uma controversa muito grande no Brasil. Segundo os conceitos Yorùbá, não existem as tão chamadas “qualidades” que temos aqui no Brasil. Estamos falando de divindades e não que eles tenham qualidade boa, ruim ou mais ou menos, não são comparadas a exemplo de bebidas: Vinho melhor ou pior (seco, tinto, safra 1925, qualidade boa; etc.) As divindades tem Caminhos e não qualidades. Na África eles cultuam um òrìsà em cada casa separadamente. Tendo casas, onde somente se iniciam filhos de Ògún; outras somente de Sòngó, outras ainda, somente de Òbàtálá, e assim por diante. Esses rituais de iniciação são feitos no templo do òrìsà, onde fica um assentamento comum a todos, chamado de Ojubo. Não existem igbá individuais.  Para eles, se for assentado mais de um igbá, a força será divergida e dividida entre esses igbá.  Ao passo que, se todos os rituais forem feitos num único igbá ou ojubo, essas forças convergirão e se somarão.  Aumentado assim o àsé para a casa e para todos.
            Ainda, nos festivais em louvor aos òrìsàs, quando da incorporação desses òrìsà, esta se fará num único filho, não importando quem quer que seja. Então, numa multidão ninguém sabe quem será o escolhido para incorporar aquele òrìsà. E quando isso acontece, todos os demais filhos respeitam e aceitam aquele transe como o único; porque aquele foi o filho escolhido pelo òrìsà para manifestar-se.
            Ao virem para o Brasil como escravos os nossos antepassados trouxeram consigo o culto aos òrìsàs.  E com o passar dos anos a religião foi se enraizando aqui.  E durante esses séculos que se passaram, desde a chegada dos negros com suas religiões até os dias atuais muitas coisas se perderam, tais como: rituais diversos e a própria língua Africana Mãe, diluindo-se quase que totalmente atualmente, onde a grande maioria das pessoas, da religião, não tem conhecimento da língua ritual.  E isso ensejou uma série de equívocos, tais como “qualidades de òrìsàs”.
            Alguns òrìsàs que eram cultuados antigamente e cujos cultos se perderam no tempo, em grande parte, pelo famigerado “segredo”, que só serviu para nos legar uma grande dose de ignorância sobre a nossa própria religião; perderam seus cultos individuais e passaram a serem cultuados como espécies de outros òrìsàs assemelhados. Como: no caso de Airá, que não é qualidade de Sòngó; Ògunte, que não é qualidade de Yemonjá; Òpàrà, que não é qualidade de Òsún;e sim filha de Obá com Sòngó; Erìnle, que não é qualidade de Òsóòsì; Sòrókè, que não é qualidade de Ògún; etc. Alguns desses òrìsàs tinham cultos semelhantes aos destes outros, então, o brasileiro os inseriu como iguais e assim ficou. Ou que ainda é simplesmente um oríkì pelo qual o òrìsà é chamado, e pelo desconhecimento da língua Yorùbá, acabaram virando mais “qualidades”. Existe sem duvida no Brasil uma questão muito polêmica sobre as multiplicidades dos Òrìsàs chamada por todos de qualidade de santo.
Primeiro na África fica mais fácil o entendimento porque não há qualidade de Òrìsà, ou seja, em cada região cultua-se um determinado Òrìsà que é considerado ancestral dessa região e, alguns Òrìsàs por sua importância acabam sendo conhecido em vários lugares como é o caso de: Sàngó, Ògún, etc. são de se saber que Èsú é cultuado em todo território africano. Na época do tráfico de escravos veio para o Brasil diversas etnias Ijesa, Oyo, Ibos, Ketu, etc e cada qual trouxeram seus costumes juntos com seus Òrìsàs, digamos particulares, e após a mistura dessas tribos e troca de informações entre eles cada sacerdote ou quem entendia de um determinado Òrìsà trocaram fundamentos e a partir daí surge às qualidades, e essa quantidade de Òrìsà presente aqui no Brasil, sendo que o Òrìsà é o mesmo com origens diferenciadas.
SOBRE A MULTIPLICIDADE DOS ÒRÌSÀS.
 Vamos separar a qualidade como é chamada no Brasil (em Cuba chama-se caminhos). Já sabemos que os Òrìsàs são venerados com outros nomes em regiões diferentes como: Iroko (Yoruba), Loko (Jeje), Sòngó (Oyo), Oranfe (Ife), isso torna o culto diferente. Temos também o segundo nome designando seu lugar de origem como Ogun Onire (Ire), Osun Kare (Kare), etc, também temos os Òrìsàs com outros nomes referentes às suas realizações como Ògún Meje refere-se às lutas contra as 7 cidades antes dele invadir Ire. Há, portanto uma caracterização variada das principais divindades, ou seja, uma mesma divindade com vários nomes e, é isso que multiplica os Òrìsàs aqui no Brasil.
Òsún é Òsún, se em um lugar ela recebe o nome de Òpárà, Apara, Ponda, Panda, Iponda ou Igimum, isso não cria um novo Òrìsà. Da mesm forma, não me permite colocar uma espada, um facão ou até mesmo um arpão no igba de um Òrìsà que em nada tem ligação com esses elementos.O nome dado à divindade não muda o comportamento do Òrìsà e sim algumas questões relativas à geografia e a flora. Exemplo como folhas, hortaliças e tubérculos usados para os rituais, encontrados em algumas regiões e em outras não, mas em nada muda a essência. Com um nome Sòngó é uma figura masculina de grande vaidade, em outro lugar e com outro nome pode ser reverenciada como guerreiro. Mas de forma alguma a mudança de nome não cria um novo Sòngó com mais ou menos idade e muito menos com um comportamento diferente. Isso se aplica a todos Òrìsàs. Existe uma infinidade de situações interessantes que podemos citar. Os filhos de Òbàtálá são vitimas de um grande numero desses equívocos. Normalmente, para eles, são assentados inúmeros Òrìsàs que não comem dendê, no entanto sabemos que a proibição do uso de dendê é restrita somente a Òbàtálá.
No Òrìsà Èsú então é impressionante o numero de erros. Tem os que levam chifre, outros que tem rabo e até um com pedras de encruzilhada e um com tridente de ferro. Outros com terra de cemitério. Existe até o que é considerado feminino, mas com um nome de um Vodum que com o tempo ficou afeminado (uma Léba).
Èsú é um òrìsà mais importante no panteão Yorùbá. Tudo e todos necessitam da intervenção de Èsú, para executarem “n” tarefas. É aí que entram com as tais qualidades, mas, que não passam apenas de funções diversas exercidas por Èsú. Temos algumas como:
  Èsú   Elégbára:    
Significa literalmente, Èsú Senhor da força ou do poder, o qual ele detém incontestavelmente, de quem todos os demais òrìsàs necessitam para executarem seus feitos. Não é qualidade, é um oríkì pelo qual ele é chamado.
Èsù  L’ònòn:
Èsú no caminho, local onde ele mora na orítà metá (encruzilhada).
Èsú  Ònòn  ou  Olóònòn
Èsù do caminho, Senhor dos caminhos, o Senhor das estradas, função em que ele abre ou fecha os caminhos; a quem pedimos licença para transitar tudo o que desejamos inclusive a nós mesmos. Ele é o Oníbodè (O Porteiro), Oníbodè-òrun (O Porteiro do Céu); ou Olútójú (O guardião, o Vigia), que revista a todos que transitam por aquela porta onde ele está de guarda.
Èsú   Elébo:
O Senhor das oferendas, função em que ele é o dono das oferendas recebidas ou que as transporta aos demais òrìsàs, com os nossos pedidos de bênçãos e benesses.
Èsú  Òdára:
A função exercida quando ele nos traz tudo de bom, bem como as respostas dos òrìsàs aos nossos rogos, sempre é mensageiro de coisas e notícias boas.
Èsú  Òjíse:
O Mensageiro, função em que ele faz a comunicação entre o ayé e o òrun, entre os seres humanos e os ara-òrun. Também levando os nossos pedidos e retornando com as respostas. É também chamado de Òjíse  Ebo  (O Mensageiro das Oferendas).
Èsú  Elérù:
O Senhor do carrego, quando ele despacha tudo aquilo que não queremos, para que vá para longe de nós, os males diversos como: morte, ruína, doenças, perdas, negatividades, etc. 
    Estas e muitas outras denominações de Èsú são apenas para especificar qual a função que ele exerce naquele momento, ou em definitivo.
           Admite-se até que existe o Èsú  Bára  (Èsu do Corpo), o Èsú individual que mora dentro de cada pessoa.  Neste caso, no fundo é o mesmo Èsú, que de acordo com a lenda do nascimento de Èsú, parido por Yèmòwò esposa de Òbàtálá, e que logo ao nascer come todos os seres vivos do ayé, e quando tudo se acaba, ele ainda continua com fome e tanto faz que termine por comer sua própria mãe, que se deixa devorar apenas para alimentar o filho.
           Òbàtálá, seu pai neste ìtàn, ao vê-lo comer a própria mãe, enfurecido puxa de sua espada e persegue-o para matá-lo. Ao alcançá-lo, Òbàtálá desfere um golpe e parte Èsú ao meio. Ao invés de morrer, ele se transforma em dois. Então, Òbàtálá desfere outro golpe cortando os dois; que se transformam em quatro, e assim sucessivamente, até serem tantos que ocuparam quase todo o espaço do ayé. Então, para que aquilo terminasse, Èsú fez acordo  em que  prometeu a Òbàtálá, que restituiria tudo o que fora comido. Tudo aquilo que ele recebera como oferenda, seria restituída em forma de retribuição a estas oferendas por ele recebidas. “Nesse ìtàn ele comeu todas as criaturas vivas, todas as frutas, todas as sementes, todos os vegetais e bebeu toda a água, otí, emu; daí lhe ser atribuído  o termo:”     “ boca que tudo come”, e é por isso também, que ele recebe qualquer coisa como oferenda.
           E, como Èsú se dividira tanto, tanto; ficou também com a incumbência de cada uma de suas “cópias” ficarem como protetora do corpo de cada ser humano que fosse  moldado por Òbàtálá .  Èsú é o primogênito que se dividiu “n” vezes, mas que, cada subdivisão é apenas uma pequena parte de um todo, que é o próprio Èsú.
Isso deixa qualquer um que conheça um mínimo sobre, apavorado com o rumo que está seguindo nossa religião.
  


terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Grande Valor das Rezas


A Tradição Yorùbá dá grande valor às rezas, crendo que a conjunção dos sons que elas emanam, quando são recitadas, são carregadíssimos de energia, que farão movimentar os objetivos pretendidos. Elas revelam feitos e características dos Òrìsàs e fornecem orientações para a conduta dos seguidores da Religião. Através das rezas pode-se fazer pedidos aos Òrìsàs, agradá-los ou aplacar sua ira. Todas estas formas poéticas orais estão cheias de metáforas e símbolos.
Reza é uma conjunção de frases pré-estabelecidas que se recite costumeiramente decoradas, direcionadas a Deus ou às Suas divindades, muitas vezes engrandecendo seus feitos e direcionamos para determinado objetivo específico. A Religião dos Òrìsà não reza diretamente para Olódùmarè (Deus), pois se crê que ELE é um ser de um poder muito grande, incalculável, e por isso é preservado. Para ouvir e atuar diretamente na vida dos homens Ele criou seus emissários, os Òrìsàs, cabendo a estes a missão de zelar por tudo que se relaciona com as necessidades humanas.
Oração é a conversa, o diálogo íntimo com Deus, através de Suas divindades, sem frases pré-determinadas.
Estes textos, milenares, dividem-se em:
OFÓ – Literal “Feitiço ou poder sobrenatural que dá alivio instantâneo à dor”. São palavras mágicas – encantamentos, que possuem em si uma mensagem mágica, ao ser recitado ativo o poder dos preparados mágicos ou medicinais.
ÀDÚRÀ  – Literal “Súplica“. São saudações, visam obter as graças dos Òrìsàs e os direciona aos elementos por eles dominados.
ORÍKÌ - chamado – convite – É a contração das palavras orí / origem +  / saudar ou louvar. São evocações e servem para louvar e evocar a presença dos Òrìsàs, assim como facilita o acesso ao auxílio que pode ser prestado pela Força Deles. Oríkì detém em si mesmo uma força mágica. Relata fatos ou feitos, de um indivíduo, família, cidade, e não só dos Òrìsàs. Transmitem informações, características, virtudes e fraquezas dos seres ou daquilo que constitui seu tema. Podem relatar fatos relacionados com o nascimento de crianças. Exemplo é o caso de gêmeos, daqueles que tem o cordão umbilical enrolado no pescoço ou que os pés venham ao mundo primeiro. Há também Oríkì para animais. A tradição Yorùbá atribui grande valor para a recitação dos Oríkì e acredita que ele sempre causa grande emoção a quem se refere. É indispensável para se fazer qualquer pedido aos Òrìsàs. As pessoas incorporam inevitavelmente ao ouvir a recitação de um Oríkì de seu Òrìsà.
ÌJÀLÁ ODE - São formas de recitar os oríkì, meio que cantaroladas, referindo-se somente aos caçadores, em especial à Ògún.
EWI ESA - É outra forma de recitação parecida com o oríkì, porém usada somente nos Cultos de Egúngún.
ORIN – Literal “Cantar” – São cantigas com formas mais brandas de louvação, empregados em festejos ou celebrações para um, ou vários Òrìsàs. Possui parte da carga informativa do Oríkì e é intermediário entre ele e as àdúrà.
ÌYÈRÈ IFÁ – São constituídos de partes de um Odù + Oríkì de Ifá, que o Bàbáláwo faz uso nas cerimônias de batizados, casamentos, enterros e outras ocasiões especiais. Muitas pessoas costumam confundir Rezas com Orações.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Armadilhas de Èsú


Èsú é o mais astuto de todos os Òrìsàs. Sempre devemos fazer oferendas à Èsú, antes de qualquer outro Òrìsà. Se ele se zanga, sapateia uma pedra na floresta, e essa pedra põe-se a sangrar. Èsú pode também ser muito malvado, se as pessoas se esquecem de homenageá-lo. A segunda feira é o dia da semana que lhe é consagrado. É bom fazer-lhe oferendas nesse dia.

Itàn

Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam, esqueceram-se, na segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas.
Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro.
Èsú, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar lhes um golpe à sua maneira. Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo. Seguiu, depois, o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou-os:

Bom trabalho, meus amigos! Estes gentilmente responderam-lhe:
Bom passeio, nobre estrangeiro!

Assim que Èsú afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o companheiro: Quem pode ser este personagem de boné branco? Seu chapéu era vermelho, respondeu o homem do campo à esquerda. Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo
branco que existe! Ele era vermelho, um vermelho escarlate de fulgor.
Insustentável! Ele era branco, trata-me de mentiroso? Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?
Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles agarram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpes de enxada.

Èsú estava vingado!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Tradicional Costumes Religiosos do povo Yorùbá



Em meus estudos, pesquisas e em tudo que eu acredito e pratico, é muito triste ver a Religião dos Òrìsàs na forma com que ela é tratada, com sinais pejorativos, nos meios religiosos. Uma grande maioria de pessoas nunca se preocupou em buscar informações adequadas quanto as Origens e Princípios desta Doutrina Religiosa para tecer suas opiniões.
Veja que me refiro à Religião dos Òrìsàs e não aos Cultos Afro-brasileiros que receberam o nome de Candomblé. Portanto, peço que não seja confundida pelo simples fato de possuir nome parecido, ou carregarem como estandarte o nome dos Òrìsàs.
A Religião dos Òrìsàs é Puramente Tradicional aos Costumes Religiosos do Povo Yorùbá, que vivem no Oeste Africano, em um território que compreende parte da República Federativa da Nigéria, República de Benin e Togo.

Há, na Religião dos Òrìsàs, uma Filosofia de Vida Extremamente Pura, onde se busca conhecer, estudar, e utilizar as Forças e os Elementos da Natureza. Para vários Elementos, e Forças, da Natureza foram criados arquétipos humanos e transformados em Divindades, no intuito de buscar o autoconhecimento. Buscar o sentido de uma encarnação, de uma passagem pela vida terrena e também explicações para várias situações vividas.
Estudiosos e pesquisadores de origem Yorùbá, há aproximadamente 8.000 anos, vem analisando o comportamento humano, configurando os arquétipos da personalidade e caráter das Divindades, com base naquilo que vão presenciando e vivendo. Formaram uma configuração de 4096 lendas que recebem o nome de Itàn, e que um Sacerdote, que deseja recebe o Título de Bábálàwó deve conhecer profundamente, para poder dar diagnósticos dos acontecimentos vividos por aquele que tenha intenção de Consultá-los.

Sabem estes Estudiosos Sacerdotes Bábálàwó que a vida é cíclica, e os fatos estudados, e configurados nas lendas dos Itàns, vão se repetir na Vida de outros. Cientes disso preparam-se, pelo estudo e conhecimentos das lendas e, quando consultados, sabem de antemão o que esta prevista nos acontecimentos futuros, em decorrência da situação para que fossem consultados. Aconselham então as mudanças de atitudes necessárias para que os fatos desagradáveis das lendas não tornem a acontecer. Aconselham que sejam feitas oferendas para as Divindades, a fim de que, Elas, como Emissárias de Deus na Terra, propiciem os acontecimentos desejados, ou a reversão de um fato desagradável apontado pela lenda do Itàn, que o ciclo faria acontecer novamente.
Esta é a maneira de utilização dos sistemas Oraculares, que recebem o nome de Ifá. Várias são as formas dos Oráculos de Ifá.
A opinião pública popular transformou várias Figuras e geraram controversas, opostas a Tradição Religiosa dos Òrìsàs. Uma dessas figuras deturpadas é a da Divindade Èsú (Exú).
Èsú é a Divindade da Vida, do Movimento é a própria esfera e da Ação. Primogênito da Criação, portanto é o primeiro ser Criado por Olòdúmàrè.
Os yorùbás cultuam Èsú em um pedaço de pedra porosa chamada Iyanguí, ou fazem um montículo grotescamente modelado na forma humana com olhos, nariz e boca feito com búzios. Èsú tem a capacidade de ser o mais sutil e astuto de todos os Òrìsàs, quando as pessoas estão em falta com ele, simplesmente provoca mal entendidos e discussões entre elas e prepara-lhes inúmeras armadilhas. Diz um orìkì que: Èsú é capaz de carregar o óleo que comprou no mercado numa simples peneira sem que este óleo se derrame. Èsú é o Òrìsà que faz o erro virar acerto e o acerto virar erro.

É Èsú quem forma a Santa Trindade Yorùbá, juntamente com Òbàtálá e Odùduwá.

 Èsú é o Mensageiro de todas as outras Divindades, e conduzem os pedidos dos Homens até Deus, e volta com as "respostas". Também é o único que tem acesso livre do Òrun (o Além) para o Àiyé (O Mundo). Èsú leva o pedido, a solicitação, o desejo dos homens.
Notem que a concepção Religiosa da Divindade Èsú (Exú) está muito distante da concepção popular pejorativa formada, e divulgada, no Brasil. Com os conhecimentos que as Divindades Yorùbá são Forças e Elementos da Natureza.

Os Yorùbás dão o nome de Èsú. Ou seja, a tradução literal é = Dono da Casa. Portanto, Èsú é um ser energético criado a partir da Energia do Pensamento de Todas das Pessoas que habitam um lar. Èsú é merecedor de um Altar de Louvor e é colocado o mais próximo da porta, ou passagem de entrada, das residências Yorùbá. Ali Ele recebe oferendas de comidas e rezas, no sentido de manter o equilíbrio, a paz, a harmonia, a saúde, a prosperidade, a fartura daquele lar. Porém, temos que notar: Èsú pode ser bom ou ruim, ágil ou estático, saudável ou doente, guerreiro ou pacífico, e assim sucessivamente, em decorrência da energia do "pensamento" das pessoas que habitam aquele lar, que o criaram, o desenvolve.
Èsú está sempre em desenvolvimento e mutação, é óbvio que, em decorrência dos atos e pensamentos dos que o mantém, por isso ele é um Èsú, pois Èsú é Vida, é Movimento, portanto é tudo o que pode acontecer no ambiente.

Posso também aproximar Èsú das chamadas Larvas Espirituais, velhas conhecidas pelos adeptos das Doutrinas de Kardec. Larvas que, segundo essa Doutrina, se movimentam vivas, pelas paredes das residências. Quando Èsù é criado a partir de uma energia ruim, pesada, desagradável, pessimista, inerte, configura-se parecidíssimo com as larvas, que deprimem os habitantes de uma casa, seja ela comercial ou residencial. Posso afirmar com toda segurança que, um imóvel que possua um Èsù ruim, mal formado, nunca será um imóvel claro, por mais lâmpadas que se mantenham acesas. Será um imóvel "doente" energeticamente, merecedor de terapias e tratamentos apropriados. Muito trabalho e dedicação são necessários por todos que vivem em uma casa, para manter Èsú equilibrado. O que pretende mostrar a Religião dos Òrìsàs, com essa apresentação ritualística toda, é que, um Lar, ou um ambiente de trabalho, harmonioso, saudável e próspero, é formado pelos bons pensamentos e atitudes das pessoas que convivem nele. Pessoas alegres, sorridentes, otimistas, saudáveis, religiosas irão viver o progresso, tanto espiritual quanto material, em um equilíbrio quase perfeito. Com esse objetivo, essa Cultura Religiosa faz louvores e oferendas a Deus, através daquilo que convencionou chamar por Èsú. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Quando uma pessoa é escolhida pelo Òrìsà


Quando uma pessoa é escolhida pelo Òrìsà, ele traz uma marca que não passa despercebida... É igual a um perfume bom que alguém passa e exala e que muitas vezes não se comenta. Mas, a curiosidade nos faz querer saber o nome da fragrância. 

Assim somos nós... Quando o Òrìsà nos marca com algo especial como o cargo de Olósànyin, Bábálàwó e outros cargos importantes no culto, muitos querem saber o segredo, e o porquê de ter sido você? Logo vão querer copiar, mas não dá! O segredo está no coração do Òrìsà e existem detalhes em você que é só seu. 

E o preço que se paga por ser escolhido pelo Òrìsà, muitas vezes é dolorido! Tem falta de compreensão carregada de inveja e muitas vezes, com calúnia e falta de fé. Fora,  o inimigo que vai tentar usar de "armas" pra te neutralizar. Mas isto não adianta diante da grandeza do Òrìsà na sua vida. 

Seja sempre grato por este amor que o Òrìsà deposita em nós, por mais difícil que possa parecer... Pois Ele está conosco por hoje e sempre.

ÒBÀTÁLÁ


Òrìsànlá ou Òbàtálá, “O Grande Òrìsà” ou “Rei do Pano Branco”, ocupa uma posição única e inconteste do mais importante òrìsà e o mais elevado dos deuses Yórùbás. Foi o primeiro a ser criado por Olódùmaré, o deus supremo. É o mais velho dos Òrìsàs, o rei de vestes brancas, raiz de todos os outros Òòsààlà. É o pai de Osàlúfón, que por sua vêz é o pai de Osoguian, tão grande e poderoso é Òbàtálá que não se manifesta, sua palavra transforma-se, imediatamente, em realidade. Representa a massa de ar, as águas frias e imóveis do começo do mundo, controla a formação de novos seres, é o senhor dos vivos e dos mortos, preside o nascimento, a iniciação e a morte. É o responsável pelos defeitos físicos, comer sal para ele constitui um ato de alto canibalismo. Ele deu a palavra ao homem e durante suas festas não se fala, durante três semanas tudo é silêncio, pois a palavra é dele.


Òbàtálá foi encarregado por Olódùmaré de criar o mundo com o poder de sugerir (àbà) e o de realizar (à), razão pela qual é saudado com o título de Aláàbáláà. Para cumprir sua missão, antes da partida Olódùmaré,  entregou-lhe o “saco da criação”. O poder que lhe fora confiado não o dispensava, entretanto, de submeter-se a certas regras e de respeitar diversas obrigações como os outros Òrìsàs. Uma história de Ifá nos conta como, em razão de seu caráter altivo, ele se recusou a fazer alguns sacrifícios e oferendas a Èsú, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo.
Òbàtálá pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu opáorò ou paxorô, o cajado para fazer cerimônias. No momento de ultrapassar a porta do Além, encontrou Èsú, que entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Èsú, descontente com a recusa do Grande Òrìsà em fazer as oferendas prescritas, vingou-se o fazendo sentir uma sede intensa. Òbàtálá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de furar, com o seu opáorò, a casca do tronco de um dendezeiro. Um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma (emú). Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não sabia, mas onde estava e caiu adormecido. Veio então Odùduà, criado por Olódùmaré depois de Òbàtálá. É o maior rival deste. Vendo o Grande Òrìsà adormecido, roubou-lhe “o saco da criação”, dirigiu-se à presença de Olódùmaré para mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Òbàtálá. Olódùmaré exclamou: “Se ele esta neste estado, vá você, Odùduà! Vá criar o mundo!” Odùduà saiu assim do Além e se encontrou diante de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair à substância marrom contida no “saco da criação”. Era terra. Formou-se então um montículo que ultrapassou a superfície das águas. Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garras. Esta começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas. Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais, o que o yoruba se diz ilè nf expressão que deu origem ao nome da cidade de ilê Ifé. Odùduà aí se estabeleceu, seguido pelos outros òrìsàs, e tornou-se assim o rei da terra. Quando Òbàtálá acordou não mais encontrou ao seu lado o “saco da criação”. Despeitado, voltou a Olódùmaré. Este, com castigo pela sua embriaguez, proibiu ao Grande Òrìsà, assim como aos outros de sua família, os Òrìsàs funfun, ou “Òrìsàs brancos”, beber vinho de palma (emú) e mesmo de usar azeite de dendê (epo). Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olòdúmaré, insuflaria a vida.

Por essa razão, Òbàtálá é também chamado de Alámorere, o “proprietário da boa argila”. Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saíam de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. Alguns, retirados do forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas: eram albinos. Todas as pessoas que entravam nessas tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se adoradoras de Òbàtálá.
Mais tarde, quando Òbàtálá e Odùduà reencontraram-se, eles discutiram e se bateram com furor. A lembrança dessas discórdias é conservada nos Itáns de Ifá. As relações tempestuosas entre divindades podem ser consideradas como transposição ao domínio religioso de fatos históricos antigos. A rivalidade entre os deuses dessas lendas seria a fabulação de fatos mais ou menos reais, concernentes à fundação da cidade de Ifé, tinha como o “berço da civilização yoruba e do resto do mundo”.
Òbàtálá teria sido o rei dos igbôs, uma população instalada perto do lugar que se tornou mais tarde a cidade de Ifé. A referência a esse fato não se perdeu nas tradições orais no Brasil, onde Òbàtálá  é frequentemente mencionado nos cantos como  Òrìsànlá Igbô ou Babá Igbô, “ou Òrìsà ou “o rei dos igbôs”. Òbàtálá foi enviado para criar o mundo (enquanto, na realidade, ele tornou-se o rei dos igbôs) e foi no mito que Odùduà tornou-se o rei do mundo, por ter roubado de Òbàtálá o “saco da criação.
Òrìsànlá-Òbàtálá é casado com Yemowo. Suas imagens são colocadas um ao lado da outra e coberta por traços e pontos desenhados com efun, no ilésìn local de adoração desse casal no templo de Ideta-Ilê, no bairro de Itapa, em Ilê-Ifé.Dizem que Yemowo foi a única mulher de Òbàtálá. Um caso excepcional de monogamia entre os Òrìsàs e eboras.
As religiões afro-americanas eram transmitidas como parte de uma longa tradição oral, há muitas variações regionais em nome da divindade.
  • África: Yemonjá, Ymoja, Yemowo,Yemoja
  • Brasil: Yemanjá, Iemanjá, Janaína
  • Cuba: Yemaya, Yemayah, Iemanya
  • Haiti: La Sirène, LaSiren
  • USA : Yemalla, Yemana
  • Uruguai: Imanja
As cerimônias públicas para Òbàtálá em Ilê-Ifé comemoram acontecimentos históricos. Antigamente, as festas duravam nove dias e foram posteriormente reduzidas para cinco. Como estão em concordância com a semana yoruba de quatro dias. Foram realizados sacrifícios de cabras no templo de Òbàtálá, no ilésìn de Ideta-Ilê, onde  encontram as imagens de Òbàtálá e de sua mulher Yemowo.
  Imagens de Òbàtálá e Yemowo, sua única esposa, no templo de Ìdèta-Ilê em Ilê-Ifé, no bairro de Itapa

Uma parte do sangue é derramada sobre as imagens que, em seguida, são lavadas com infusão de folhas colhidas na floresta. Essas folhas são de diferentes variedades, entre as quais figuram as plantas calmantes (èró). Em seguida, as duas imagens são enfeitadas com um a série de traços e pontos brancos feitos com efun. Os sacerdotes mais importantes, Òbàlále, guarda de Òbàtálá, Obàlásé, guarda do Òrìsà Aláse, dançam por muito tempo nesse primeiro dia ao som dos tambores ìgbìn, próprio do culto de Òbàtálá.
O Onílù, o tocador de tambor, quando é especialista no tipo Ìgbìn, são chamados de Alùgbìn, que é o caso no templo Ìdèta-Ilê de Òbàtálá, em Ilê-Ifé. O ìgbìn é o nome do tambor de Òbàtálá, e do seu ritmo de dança preferido. -
São tambores pequenos e baixos, apoiados sobre pés, um macho e outra fêmea.

 O instrumento de percussão são dois ferros em forma de T, chamados de Eru, são batidos um contra o outro para "marcar o ritmo" tocado pela "orquestra".
No dia seguinte, seus corpos são igualmente enfeitados com desenhos feitos com efun. As imagens são bem enroladas em pano branco e levadas, de manhã cedinho, em procissão desde Ideta-Ilê até Ideta-Oko. Todos os ingredientes da oferenda a ser feita são levados até lá. Essa oferenda consta de dezesseis caracóis, dezesseis ratos, dezesseis peixes, dezesseis nozes de cola (obi).

Ervas e folhas de Òbàtálá

Alecrim, Angélica, Araçá, Barba de Velho, Baunilha, Camélia, Camomila, Cipó Cravo, Colônia, Cravo da Índia, Eucalipto, Fava de Pichuri, Folha da Fortuna, Girassol, Guaco Cheiroso, Hortelã, Jasmim, Laranjeira, Lírio do Brejo, Malva Cheirosa, Malva do Campo, Manjericão Branco, Manjerona, Mastruço, Noz de Cola, Patchouli, Poejo, Rosa Branca, Saião, Sálvia, Sangue de Cristo, Umbu.

Èèwò (kizila)
Sal, Azeite de dendê.

Adimus (agrados)
Canjica, Mel, Obí Branco, Melão, Uva Verde, Fruta Pão, coco sem casca, inhame pilado e cozido etc.


Egbò
Material necessário: Canjica branca, Mel, Algodão, Água.
Maneira de Fazer: Cozinha-se a canjica somente em água. Depois de bem cozida, coloca-se numa vasilha branca, coloca-se bastante mel de abelhas e cobre-se com algodão.

Akasá
Material necessário: Canjica branca, folha de bananeira.
Maneira de Fazer: Moe-se o milho de canjica cozinha-se até dar até dar o ponto de ficar bem durinho e enrole os bolinhos na folha da bananeira.

Inhame Acará
Cozinha-se o inhame e depois amassa-se feito um purê. Fazem-se bolinhos nas mãos e coloca-se em pratos brancos. Oferece-se à Òbàtálá.

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