domingo, 29 de abril de 2012

BRUXAS

AS  BRUXAS
Os yorùbás acreditam em bruxas. Diz à tradição que ao escrever sobre as bruxas deve-se tomar muito cuidado para não mentir. O que aqui dizemos são as verdades ouvidas dos mais velhos.
Só as mulheres podem ser bruxas. É muito difícil, entretanto, alguém confessar espontaneamente essa condição. Em geral as bruxas são más, mas existem bruxas boas.
Como as pessoas viram bruxas?
Sabe-se que as bruxas são filhas de bruxas.
Quando crianças elas desconhecem sua condição. Só quando chegam à idade adulta é que começam a tomar consciência das suas características diferentes. Quando uma bruxa está para morrer, chama a filha de que mais gosta e transmite-lhe sua força e todos os seus poderes, através da boca.
Algumas mulheres querem ser bruxas, mesmo sem serem filhas de bruxa. Elas procuram entrar para a Sociedade Secreta das Bruxas. Para isso é preciso satisfazer uma série de condições. Algumas conseguem ser aprovadas, e tornam-se bruxas.
A Sociedade Secreta das Bruxas reúne-se de madrugada, para realizar vários rituais. Elas trabalham com o coração, isto é, o corpo fica na cama dormindo e o coração sai. Se acontecer alguma coisa com o coração quando uma bruxa estiver trabalhando, a pessoa morre, pois o corpo que ficou na cama, sem coração, nunca mais acordar.
Por que as pessoas têm medo das bruxas?
Acredita-se que as bruxas são más, invejosas, e podem matar cegar ou fazer alguém ficar paralítico. Embora nem sempre isso seja verdade, essa crença causa medo na maioria das pessoas.
Hoje em dia com a “moda” das entidades sobrenaturais, como duendes, fadas, gnomos, bruxas, etc. esse medo diminuiu, e a figura da bruxa tornou-se simpática na nossa cultura. Entretanto na cultura africana a ideia de bruxa é bem diferente da nossa.

Como fazer para reconhecer uma bruxa?

Para os Yorùbás é fácil reconhecer a presença de uma bruxa. Quando aconteciam muitas coisas ruins numa família, os chefes sabiam que era coisa de bruxa, e avisavam a “quem estivesse fazendo isso”, que deveria parar. Caso continuassem acontecendo coisas más, recolhia-se dinheiro de todas as mulheres da família para fazer uma obrigação, que tinha por finalidade descobrir quem era a bruxa. No dia marcado todas as mulheres deveriam comparecer. O chefe da família rezava e dava-lhes obi para comer. Cada uma devia se ajoelhar, jurar que não era a bruxa e comer o obi. Se alguma delas fosse bruxa, dentro de três dias começava a falar involuntariamente sobre todo o mal que vinha causando à família ao longo dos anos.
As bruxas descobertas com esse método eram punidas de acordo com o costume de cada localidade.

Será que todas as bruxas eram más?

Existiam bruxas boas, que só usavam bruxaria para ajudar algum membro da família que estivesse precisando, ou alguém doente.
Ninguém sabia que havia uma bruxa na família, mas se alguém a denunciasse, ou se por algum motivo fosse descoberta, o marido testemunhava diante do rei que desde que ela chegou, na sua casa só aconteceram coisas boas, e sua vida melhorou. O rei e todos na cidade passavam a rezar por ela, e era perdoada.
Como as bruxas eram punidas?
Em cada localidade havia uma punição diferente. Dentre as várias maneiras tradicionais de se punir as bruxas, vamos relatar duas: Havia no mato uma planta chamada “árvore de macaco”. Quem bebesse o suco dessa planta, morreria. Se alguma mulher fosse presa como bruxa, davam-lhe esse líquido para beber. O corpo era levado para uma floresta fora da cidade.
Outra forma era chamar as crianças da cidade para atirar pedras na bruxa, até ela sair da cidade. Em cada cidade as crianças iam fazendo o mesmo, até ela morrer. O corpo era comido pelos cachorros.
As famílias das bruxas ficavam muito envergonhadas, e saiam da cidade, indo viver em outra localidade. Só depois de vinte ou trinta anos é que poderiam voltar a morar naquela localidade sem ter problemas.
Hoje em dia as mulheres não se dedicam mais a fazer bruxarias, mas ninguém pode afirmar que as bruxas estão completamente extintas da terra yorùbá...
É interessante procurar conhecer as sociedades religiosas dos yorùbás. A Sociedade Gelede, por exemplo, composta de devotos das àje (feiticeiras), é representada pelas Iya-Mi (minha mãe), o que demonstra o grande poder oculto das mulheres.

ÌWÀ PÈLÉ

A importância dada ao bom caráter (Ìwà Pélè)
Ìwà é o que caracteriza uma pessoa sob o ponto de vista ético. Para ser feliz uma pessoa deve ter ìwà pélè, pois quem tem bom caráter não entra em choque com os seres humanos nem com os poderes sobrenaturais. Esse é o mais importante dos valores morais yorùbá, e a essência da fé consistem em cultivá-lo. Tem pessoas que tem o famoso two faces (duas caras), se apresenta como o bom samaritano para uns e não aplica o mesmo para outros. Esses tipos de pessoas infinitamente não tem Ìwà.
 A lenda de Ìwà é relatada na literatura de Ì:
 Ìwà era uma mulher de rara beleza com quem Òrúnmílà se casou, após ela ter se separado de diversos outros Deuses.  Apesar de sua beleza, Ìwà tinha maus costumes e falava demais, sendo ainda preguiçosa e irresponsável. Depois de algum tempo de casados, Òrúnmílà, não podendo suportar o mau comportamento de sua esposa, mandou-a embora.
 Entretanto, quando Ìwà partiu, Òrúnmílà percebeu que não podia viver sem ela. Perdeu o respeito dos vizinhos, sua prática divinatória perdeu o valor, seus clientes se afastaram, ficou sem dinheiro, enfim perdeu tudo e foi desprezado por todos. Tentando achar uma solução, vestiu-se de Egúngún e saiu por aí, à procura de Ìwà. Foi à casa dos 16 Odus de Ìfá à procura da esposa, cantando na porta de cada um:

 “Grande Sacerdote de Ìfá de Ajeró,
Adivinho de Ajeró,
Aonde você vir Ìwà, diga-me.
É Ìwà, Ìwà que estou procurando.
Se você tem dinheiro, mas não tem Ìwà,
O dinheiro não é seu;
Ìwà é a pessoa que eu procuro.
Se alguém tem filhos, mas não tem Ìwà,
As crianças pertencem a outra pessoa;
Ìwà, Ìwà é quem nós procuramos...
Se temos uma casa, mas não temos Ìwà,
A casa não é nossa, é de outra pessoa.
Ìwà, Ìwà é o que procuramos.
Se você tem roupas, mas tem falta de Ìwà,
As roupas pertencem a outra pessoa.
Ìwà, Ìwà é o que procuramos.
Todas as boas coisas da vida que um homem possui,
Se ele perder Ìwà, elas passam a pertencer a outra pessoa.
Ìwà, é o que estamos à procura!”

(Ogbon inú, awo Alárá;
Dífá fún Alárá, Èjí Osá,
Omo Amúrin kàn dogbon agogo.
Ìmoràn, awo Ajerò, Difá fun Ajerò,
Omo ògbójú koroo jà jále.
Níbo ló gbé ríwà fún un o,
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Ó nó bó o lówó, tóò níwà,
Owo olówó ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Omo la bí,
Tá à níwà, Omo olomo ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Bá a nílé, tá à níwà,
Ilé omílé ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Bá a láso,tá à níwà
Aso, aláso ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Ire gbogbo tá a ni,Tá à níwà.)
Depois de grande procura Òrúnmílà achou Ìwà casada com Olójo. Quando cantou na porta de Olójo, este foi à porta recebê-lo e recusou-se a devolvê-la. Então eles começaram a brigar. Òrúnmilá bateu em Olójo com a perna de uma cabra que havia sacrificado antes de sair de casa. O impacto atirou Olójo a muitas milhas de distância, e Ìwà foi levada de volta para sua casa.
Ao analisar a lenda vemos as várias razões da importância dada a Ìwà. Primeiro é importante que o bom caráter seja simbolizado por uma mulher. No folclore yorùbá as mulheres representam os dois extremos - amor, cuidado, devoção e beleza versus fraqueza, deslealdade e falsidade. Só as mulheres podem simbolizar essa dualidade, de acordo com o conceito yorùbá.A lenda mostra ainda que o homem deve cuidar de seu caráter tão bem como cuida de sua esposa. Da mesma forma que manter a esposa é obrigação do marido, o bom caráter deve ser uma obrigação para os que têm fé e querem viver de forma correta. As mulheres são consideradas bruxas e podem até ser mentirosas, mas os yorùbá creem que a sociedade não pode sobreviver sem elas. Da mesma forma, pode ser difícil ter bom caráter, mas não se pode ser feliz sem ele. Ìwà foi uma mulher que perdeu os bons hábitos. Significa que o homem que quer ter bom caráter deve estar preparado para encarar egbin - coisa suja - e passar por algumas situações desagradáveis, que podem ofender sua dignidade e decência. Mesmo assim não deve se desviar do bom caminho, para não perder a essência e o valor de sua vida.
 Os versos equiparam Ìwà aos bens materiais que os homens almejam: dinheiro, filhos, casa e roupas. Um homem que tem bens materiais, mas não tem caráter, provavelmente irá perder tudo para uma pessoa de caráter, que saberá melhor tomar conta desses bens. Ìwà é o atributo de maior valor entre todos, no sistema yorùbá.
 Ifá é superimportante, mas o caráter é maior que ele. Se uma pessoa tem caráter terá Ìfá dentro de você.

A Ìylòrìşà Maria Inez nos traz uma excelente poesia que retrata bem os costumes e a importância que o povo Yorùbá dá à educação e à honra:
TÓJÚ ÌWÀ RE
Tójú ìwà re, òré mi!
Olá a ma si lo n'ilé eni,
Ewà a sì ma sì l'ára enia,
Olówó òní 'ndi olòsì b'ó d'òla
Òkun l'óla, òkun nìgbì orò,
Gbogbo won l'ó 'nsí lo nílé eni;
Sùgbón ìwà ni 'mbá'ni dé sàréè,
Owo kò jé nkan fún 'ni,
Ìwà l'éwà l'omo enia.
Bí o l'ówó bí o kò ní 'wà 'nkó,
Tani jé f'inú tán o bá s'ohun rere?
Tàbí bí o sì se obìrin rògbòdò,
Bí o bá jìnà sí 'wa tí èdá 'nfé,
Taní jé fé a s'ílé bí aya?
Tàbí bi o jé oníjìbìtì enia,
Bí a Tilè mo ìwé àmòdájú,
Taní jé gbé 'sé aje fún o se?
Tójú ìwà re, 'òré mi,
Ìwà kò sí, èkó d'ègbé,
Gbogbo aiye ni 'nfé 'ni t'ó jé rere.

CUIDE DE SUAS MANEIRAS
Cuide de suas maneiras, meu amigo!
A honra pode abandonar nossa casa,
e a beleza às vezes acaba.
O rico de hoje pode ser o pobre de amanhã.
A honra é como o mar, e também a onda da riqueza;
ambas podem escapar de nossa casa.
Mas as boas maneiras acompanham-nos até ao túmulo.
O dinheiro não é nada,
boas maneiras são a beleza da humanidade.
Se você tem dinheiro, mas não se comporta bem,
quem irá confiar em você?
Se você é uma mulher muito linda mas não se comporta de maneira adequada,
quem desejará tê-la como esposa?
Cuide de suas maneiras, meu amigo!
Se você é muito educado, mas engana as pessoas, quem confiará em você para negócios?

Fonte: CULTURA YORÙBÁ - Costumes e Tradições -The Essentials Of The Yoruba Language. Londres: Hodder & Stoughton.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

YEMONJÁ

Yemonjá, cujo nome deriva de Yèyé Omo ejá (‘’Mãe cujos filhos são peixe` ), mãe dos rios, dos mares, proprietária de todas as riquezas do mar, é dona do maior cemitério do mundo. A rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas. É a grande mãe geratriz e provedora do sustento de toda a humanidade. Representa ainda as profundezas do inconsciente, o movimento rítmico, todas as coisas cíclicas, tudo que pode se repetir infinitamente. A força contida, o equilíbrio. O principal templo de Yemonjá está localizado em Ibará, um bairro de Abeokutá. Os fiéis desta divindade vão todos os anos buscar a água sagrada para lavar os axés, não no rio Ògùn, mas numa  fonte de um dos seus afluentes, o rio Lakaxa. Esta água é recolhida em jarras, transportada numa procissão seguida por pessoas que carregam esculturas de madeira (ère) e um conjunto de tambores. Yemonjá é a mãe que tem muito carinho para dar aos seus filhos, proteção, amor etc., mas se tiver que punir um filho, ela não pensa duas vezes.  De todas as energias no panteão dos Òrìsàs, a ira de Yemonjá pode ser a mais feroz, com sua fúria ela pode varrer tudo em seu caminho... Cidades ou países inteiros. Ela pode levar um filho pro seu leito a hora que quiser, sendo numa simples pescaria ou até mesmo em um mergulho em sua moradia. 

 Yemonjá irrita-se com a sujeira que os homens lançam no mar 
Logo no princípio do mundo, Yemonjá teve motivos para desgostar da humanidade: os seres humanos sujavam suas águas com lixo, jogando no mar tudo o que a eles não servia, velho ou estragado; até mesmo cuspiam em Yemonjá, quando não faziam coisa pior.
Ela foi queixar-se a Olódùmarè. Assim não dava para continuar. Yemonjá vivia suja, sua casa estava sempre cheia de porcarias.
Olódùmarè ouviu seus reclamos e deu-lhe o dom de devolver à praia tudo o que os humanos jogassem de ruim em suas águas.
Desde então as ondas surgiram no mar. As ondas trazem para a terra o que não é do mar.
Saudações a Yemonjá
“Rainha das águas que vem da casa de Olóòkun”.
Ela usa, no mercado, um vestido de contas.
Ela espera orgulhosamente sentada, diante do rei.
Rainha que vive nas profundezas das águas.
Ela anda a volta da cidade. Insatisfeita, derruba as pontes.
Ela é proprietária de um fuzil de cobre.
“Nossa mãe de seios chorosos”.

Ewé Yemonjá
Melão d’água, coqueiro, lírio do brejo, melancia, manjericão branco, elevante, maricotinha, beti branco, beti cheiroso, erva da jurema, erva prata, taioba branca, mostarda, lágrima de nossa senhora, salsa da praia, azedinha do brejo, mãe boa, macassá, Emília, vassourinha, árvore da felicidade, colônia, camboatá, rosa branca, verbena, umbaúba branca, algas, panaceia, alfazema, macela, aguapé, condessa, dandá do brejo, malva branca, papo de peru, ramo de leite, araçá da praia.

  Oríkì Yemonjá

Yemojá ágbódò dáhùn ire
Ìyá mi.
Aseperiola.
Abèrìn èye lénu
Iwo l'oko mi
Abìrìn iyì lésè méjèjì
Olówó orí mi
Omi owó kò wón nílé wa
Omi là bureke
Iyemojá a tó f'ara tì bí òkè
O l'ómi nílé bí egbele
Òrìsà tí nfi omi tútù wo àrùn
A wo àrùn fún olomo má gba èjé
Yemojá a tún orí eni tí kò sunwòn se
Túbò tún orí mi se kalé o.
Tradução
Yemanjá, de dentro das águas, responde com o bem.
Minha mãe,
Que pode ser chamada para trazer prosperidade.
A que sorri elegantemente.
Você é minha senhora.
Louváveis são os passos de seus pés.
Dona do meu orí.
A água que traz prosperidade não falta em nossa casa.
Água em abundância.
Yemanjá,firme como a montanha,nela podemos nos apoiar.
Possui casa formada por muitas águas.
Orixá que cura doenças com água fria.
Que cura as doenças sem pedir sangue aos familiares do doente.
Yemanjá, que melhora o mau ori.
Melhora mais e mais o meu ori, até o fim da minha vida.


Características dos filhos de Yemonjá
  
As filhas (e filhos) de Yemonjá possuem como características básicas a força e a determinação, assim como o sentido da amizade e do companheirismo; são pessoas presas no arquétipo da mãe, à família e aos filhos. São doces, carinhosas, tradicionais, pouco rígidas, sentimentalmente envolventes e com grande capacidade de empatia com os problemas e sentimentos dos outros. Não gostam de mudanças e apreciam a rotina do cotidiano. São muito protetoras; possuem o sentido da hierarquia, fazem-se respeitar e são justas, mas formais. Põem à prova as amizades que lhes são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se a perdoam, não a esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérias.
Sem possuírem a vaidade de Òsún, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Elas têm tendência à vida suntuosa mesmo se as possibilidades do cotidiano
não lhes permitem; mesmo quando pobres, pode-se notar certa sofisticação em suas casas, se comparadas com as demais da comunidade de que fazem parte.
As filhas e filhos de Yemonjá não podem ficar expostos à poeira, pois tendem a desenvolver problemas respiratórios.
São pessoas que não gostam de viver sozinhas, sentem falta da tribo, inconsciente ancestral, e por isso costumam casar ou associar-se cedo.
 Um filho de Yemonjá pode tornar-se controlador e rancoroso, remoendo questões antigas por anos e anos, sem esquecê-las jamais.
Os filhos de Yemonjá demoram muito para confiar em alguém, bons conhecedores que são da natureza humana. Porém, quando finalmente passam a aceitar uma pessoa no seu verdadeiro e íntimo círculo de amigos, deixam de ter restrições, aceitando-a completamente e defendendo-a, seja nos erros como nos acertos, tendo grande capacidade de perdoar as pequenas falhas humanas.

Ofo Asé Yemonjá (palavras de poder)
Omi-aribu-sola
Espírito de água torna um lugar de honra

Ela tem filhos no mundo inteiro.
Yemonjá está em todo lugar aonde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes.
Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.

Odô Iya, Yemonjá, Ataramagbá
Ajejê lodo! Ajejê nilê!
Mãe das águas, Iemanjá, que se estendeu ao longe, na amplidão.
Paz nas águas! Paz na casa!

yemojá a gbe O
(Iemanjá os proteja)

 

domingo, 22 de abril de 2012

ÒGÚN


ÒGÚN é a divindade do ferro e de tudo que deste metal deriva, protege todos os trabalhadores que fazem o uso de suas ferramentas. ’’Ògún é guerreiro impiedoso e vencedor``. É o òrìsà da tecnologia, devido às suas habilidades em que a arte e a inteligência sobressaem. Filho mais velho de Oduduwá, o fundador da cidade de Ìle Ifé. Era um temível querreiro e grande conquistador, que brigava sem cessar contra reinos vizinhos. Dessas expedições, ele trazia sempre um rico espólio e numerosos escravos. Guerreou contra várias cidades destruindo-as. Saqueou e devastou muitos outros estados e apossou-o da cidade de Ire. Em sua dança gesticula o uso da espada, sempre certeira, temida e respeitada por todos, pois Ògún é explosivo, de pavio curto. Òrìsà da estrada é quem abre os caminhos. Ògún é considerado o Asiwaju ( o que vai na frente ) dos outros Òrìsàs. Segundo alguns itans, Ògún e Osoosí seriam irmãos, e Ògún o irmão mais velho teria ensinado Osoosí a caçar, para que esse pudesse sobreviver nas matas. Outra associação que fazemos a Ògún é o mariwo, que é a folha do dendezeiro, que desfiamos em homenagem ao Òrìsà, e colocamos em cima das portas da casa, para que afaste energias negativas. O mariwo é tão importante, pois segundo fontes, foi através dos dendezeiros que os Òrìsàs teriam descido a terra, durante a criação.

Um Itan de Ifá, explica como o número 7 foi relacionado a Ògún e o número 9 a Òyá. Conta a lenda: “Òyá era companheira de Ògún antes de se tornar a mulher de Sàngó. Ela ajudava o Deus dos ferreiros nos seus trabalhos; carregava docilmente seus instrumentos, da casa à oficina, e aí ele manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ògún ofereceu a Òyá uma vara de ferro, semelhante a uma de sua propriedade, e que tinha o dom de dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres que por ela fossem tocados no decorrer de uma briga. Sàngó gostava de vir sentar-se à forja a fim de apreciar Ògún bater o ferro e, frequentemente, lançava olhares Òyá; esta, por seu lado, também o olhava furtivamente. Sàngó era muito elegante, muito elegante mesmo, Seus cabelos eram trançados e usava brincos, colares e pulseiras. Sua imponência e seu poder impressionaram Òyá. Aconteceu, então, o que era de se esperar: um belo dia ela fugiu com ele. Ògún lançou-se a sua perseguição, encontrou os fugitivos e brandiu sua vara mágica. Òyá fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo tempo. E, assim Ògún foi dividido em sete partes e Òyá em nove, recebendo ele o nome de Ògún Mejé e ela o de Iansã, cuja origem vem de Iyámésàn a mãe (transformada em) nove. Os lugares consagrados a Ògún ficam ao ar livre, na entrada dos palácio dos reis e nos mercados. Estão presentes também na entrada nos templos de outros òrìsàs.

A vida amorosa de Ògún foi muito agitada. Ele foi o primeiro marido de Òyá aquela que se tornaria mais tarde mulher de Sàngó. Teve também relações com Òsún antes que ela fosse viver com Osoosì e com Sàngó. E também com Oba, a terceira mulher de Sàngó. Os oríkì de Ògún demonstram seu caráter aterrador e violento: “Ògún que, tendo água em casa, lava-se com sangue”. Os prazeres de Ògún são os combates e as lutas.   Ògún come cachorro e bebe vinho de palma. Ògún, o violento guerreiro, O homem louco com músculos de aço, o terrível, que se morde a si próprio sem piedade. Ògún que come vermes sem vomitar. Ògún que corta qualquer um em pedaços mais ou menos grandes.  Ògún, tu es o medo na floresta o temor dos caçadores. Ele mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro. Ele mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada e aquele que critica esta ação.

Símbolos sagrados de Ògún

Mariwo- folha extraída da palmeira do coqueiro de dendê
Emu- alicate usado nos assentamentos e pelos ferreiros
Ida- espada de ferro
Ada- facão.
Oolu- martelo
Opa Ògun- bastão de ferro revestido com contas multicoloridas. Somente os pertencentes a mais alta hierarquia têm o privilegio de carrega-lo
Obe-faca
Agogô- sino forjado em ferro
Ota Ògun- pedra sagrada
Awe- pote de barro sagrado que contém água

Característica dos filhos de Ògún

O arquétipo de ògún é o das pessoas violentas, briguentas e impulsivas, incapazes de perdoarem. Os filhos deste Òrìsà tem mania de perseguição, tem sempre algumas tendências com alguns vícios, (não é uma regra), com: bebidas, jogatinas e até mesmo o tabaco. Das pessoas que perseguem energeticamente seus objetivos e não desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado. Das pessoas que possuem humor mutável, passando por furiosos acessos de raiva ao mais tranquilo dos comportamentos.  Finalmente, é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços,  mas que,  devido à sinceridade e fraqueza dê suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas. Gastam aqui o que ganham ali. Geralmente são de estatura média para alta.

Èèwò( kizila)
Cobra, cabeças de animais em cima do seu assentamento, panelas, cabaças cortadas ou quebradas, colheres de pau, faca sem fio (cega), chifre de Búfalo, manga espada, assobio.

Os adimus ( agrados ) de Ògún
Todas as caças, principalmente o Aja (cachorro ), Obuko (cabrito), Agutan (carneiro), Okin (pavão), Eku (preá), Njoro (coelho), Iyan –Dindin (bolos de inhame fritos no Epo), Emù-ogurò (vinho de palma), Sekete (cerveja de milho ou qualquer outra), Obi abata, franjas de Mariwo, inhame assado, banana ouro, Èré (feijões)  etc.


Ewé ògún
Picão, cambará, erva do diabo ou figueira do inferno, aroeira vermelha, dormideira, pimentas, arruda, olho de gato, carrapicho, tiririca, alfavacão, perpétua, sapê, cansanção, trombeta roxa, urtiga, maconha, branda fogo, vassourinha, mamona vermelha, corredeira, coroa de cristo, cana de açúcar, arrebenta cavalo, bico de papagaio, azevinho, caruru, comigo ninguém pode , assafética, erva de bicho, losna, hortelã pimenta, cacto, fortuna, babosa, assa peixe, fedegoso, Jamelão, jurubeba, sempre viva, tinhorão roxo, peregun, espada de são jorge. 

Oríkì Ògún

Ògún laka aye
Osinmole
Olomi nile fi eje we
Olaso ni le
Fi imo bora
La ka aye
Moju re
Ma je ki nri ija re
Iba Ògún
Iba re Olomi ni le fi eje we
Feje we. Eje ta sile. Ki ilero
As
é.

 tradução:
Ogun poderoso do mundo
O próximo a Deus
Aquele que tem água em casa, mas prefere banho com sangue
Aquele que tem roupa em casa
Mas prefere se cobrir de mariô
Poderoso do mundo
Eu o saúdo
Que eu não depare com sua ira
Eu saúdo Ogun
Eu o saúdo, aquele que tem água em casa, mas prefere banho de sangue
Que o sangue caia no chão para que haja paz e tranquilidade
Axé

ÒGÚN Yêêê! 

sábado, 14 de abril de 2012

ÒSÚN

Òsún é à força dos rios, que correm sempre adiante, levando e distribuindo pelo mundo suas águas que matam a sede, seus peixes que matam a fome e o ouro que eterniza as ideias dos homens nele materializadas. Como as águas dos rios, a força de Òsún vai a todos os cantos da terra. Ela dá de beber as folhas de ÒSÁNYÌN, esfria o aço forjado por ÒGÚN. Como acontece com as águas nunca se pode prever o estado em que encontraremos Òsún, e também não podemos segura-la em nossas mãos. Assim Òsún é o ardil feminino. A sedução. A deusa que seduziu a todos os òrìsàs masculinos. Mãe da água doce, o olho d água, deusa da meiguice, dos sentimentos doces, maduros, sinceros, honestos, dona do ouro. Òsún é a paz no coração, é o saber, o mimo. Òsún rege o charme, tudo que está ligado à sensualidade, à sutileza, ao dengo, tem a regência de Òsún. Ela está ligada à magia ao feitiço. Os filhos de Òsún são muito ligados às Ìyámi Òsòróngá, feiticeiras. Com elas aprendeu a arte da magia. Por isso, os filhos de Òsún são tão poderosos nesta arte. O poder de Òsún é materizado nas mulheres através das Àjès, as mais temidas, as mais poderosas e as mais reverenciadas mulheres no culto Yorùbá. Òsún está ligado ao processo de fecundação. Na multiplicação da célula mater – que vai gerar a criança, a nova vida no ventre- Èsú entrega a regência para Òsún, que vai cuidar do embrião, do feto, até o nascimento. É Òsun que vai evitar o aborto, manter a criança viva e sadia no útero da mãe. É Òsún que vai reger o crescimento desta nova vida que estará, neste período de gestação, numa bolsa de água. É sem dúvida, uma das regências mais fascinantes, pois é o início, a formação da vida. E Òsún que tomará conta até o nascimento, quando, então, entregará para Yemonjá, que dará destino àquela criança.
Òsún sempre foi uma menina muito carinhosa, bisbilhoteira, interessada em aprender de tudo. Como sempre fora mimosa e manhosa, além de muito mimada, conseguia tudo do pai, o Deus da brancura (Òrìsà Funfun ). Sempre que Orìsálá queria saber de algo, consultava Òrúnmìlá. O senhor da adivinhação, para que ele visse o destino a ser seguido. Òrúnmìlá por sua vez, sempre dizia à Orìsálá:
- Pergunte a Èsú, pois ele tem o poder de ver os búzios! E este acontecimento se repetia a cada vez que Orìsálá precisava saber de algo. Isto intrigou Òsún, que pediu para aprender a ver o destino. E Orìsálá disse à filha:
-Òsún, tal poder pertence a Ifá, que proporcionou a Èsú o conhecimento de ler e interpretar os búzios.Isto não pode lhe dar!
Curiosa Òsún procurou, então, uma saída. Sabia que o segredo dos búzios estava com Èsú e procurou-o para lhe ensinasse.
- Ensina-me, Èsú! Eu também quero saber como se vê o destino.
Ao que Èsú respondeu:
Não, não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino!
 Èsú estava intransigente. Òsún sabia disso e sabia que não conseguiria nada com ele. Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Ìyámi Òsòróngá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Èsú eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Ìyámis, empoleiradas nas árvores.Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram à jovem Òsún:
- O que você quer aqui mocinha?
- Gostaria de aprender a magia! Disse Òsún, em tom amedrontado.
- E por que quer aprender a magia?
- Quero enganar Èsú e descobrir o segredo dos búzios
As Ìyámis, há muito querendo ‘’pegar Èsú pelo pé``, resolveram investir na jovem Òsún ensinando-lhe todo o tipo de magia,mas advertiram que, sempre que Òsún usasse o feitiço, teria que fazer-lhes uma oferenda. Òsún concordou e partiu.
Em seu reino, Orìsálá já se preocupava com a demora de Òsún que, ao chegar, foi diretamente ao encontro de Èsú. Ao encontrar-se com este, Òsún insistiu:
- Ensina-me a ver os búzios, Èsú?
- Não e não! Foi sua resposta.
Òsún, então, com a mão cheia de pó brilhante, mandou que Èsú olhasse e adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Èsú chegou perto e fixou o olhar. Òsún, num movimento rápido,  abriu a mão e soprou o pó no rosto de Èsú, deixando-o temporariamente cego.
- Ai!Ai! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava èsú:
Òsún, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a èsú:
- Eu os procuro, quantos búzios Forman o jogo?
- Ai! Ai! São 16 búzios. Procure-os para mim, procure-os!
- Tem certeza de que são 16 Èsú? E por que seriam 16?
- Ora, ora, por que 16 são os Odus de cada um deles fala 16 vezes, num total de 256.
-Ah! Sei. Olha Èsú, achei um, ele é grande!
- É Okanran! Ai!Ai! Não enxergo nada!
- Olha, achei outro, é menorzinho.
- É Eji-okô, me dê, me dê!
- Ih! Èsú; Achei um compridinho!
- E Etá-Ogundá, passa para cá...
E assim foi até chegar ao ultimo Odu, inteligente, Òsún quardou o segredo do jogo e voltou ao seu reino. Atrás de si, deixou Èsú com os olhos ardidos e desconfiados de que fora enganado.
- Hum! Acho que esta menina me passou para trás!
No reino de Orìsálá, Òsún disse ao seu pai, que procurara as Ìyámis, que com elas aprendera a arte da magia e que tomara de  Èsú o segredo do jogo de búzios. Ifá, o senhor da adivinhação, admirado pela coragem de Òsun, resolveu dar-lhe, então, o poder do jogo e advertiu que ela iria regê-lo juntamente com Èsú. Assim, Òsún é também a força da vidência feminina.


                               Templo de Òsún em Osogbo – Nigéria- África

                           Festival de Òsún em Osogbo - Nigéria - Àfrica

Laços muito estreitos existem entre Òsún e os reis de Osogbo. Neste lugar, a festa anual das oferendas a Òsún é uma comemoração pela chegada de Larô, fundador da dinastia, às margens deste rio cujas águas correm permanentemente. Larô, depois de muitas atribulações, achando o lugar favorável ao estabelecimento de uma cidade, aí se fixou com sua gente. Alguns dias depois de sua chegada, uma de suas filhas foi se banhar num rio e se perdeu sob as águas. Reapareceu no dia seguinte, soberbamente vestida, declarando ter sido muito bem acolhida pela divindade do rio.
Larô, para demonstrar sua gratidão, dedicou-lhe oferendas. Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer em sinal de aceitação, as comidas que Larô havia jogado nas águas. Um grande peixe que nadava próximo ao local onde este se encontrava cuspiu-lhe água. Larô recolheu esta água numa cabaça e bebeu, fazendo assim um pacto de aliança como rio. Estendeu, depois, as duas mãos para frente e o grande peixe saltou sobre elas. Larô recebeu o título de Ataojá - contração da frase Yorubá: A tewo gba ejá, "Ele estende as mãos e recebe o peixe" - e declarou: Òsún gbò, "Òsún está em estado de maturidade", suas águas serão sempre abundantes, esta foi a origem do nome da cidade Osogbo.

No dia da festa anual, Ataojá vai solenemente até as margens do rio. Sua cabeça é coberta por uma coroa monumental feita com pequenas miçangas reunidas e é vestido com pesada roupa de veludo. Anda com calma e gravidade, rodeado por suas mulheres e seus dignatários. Uma de sua s filhas leva, nesta procissão anual, a cabaça contendo os objetos sagrados de Òsún. É a Arugbá Òsún, "aquela que leva a cabaça de Òsún". Ela representa a moça que outrora desaparecera no rio. Sua pessoa é sagrada, e o próprio rei inclina-se à sua frente. Depois que atinge a idade da puberdade ela não pode mais preencher essa função. Mas, pela graça de Òsún, a descendência de Ataojá é sempre numerosa, não faltando, pois, a possibilidade de se encontrar uma Arugbá Òsún disponível. Ataojá senta-se numa clareira e acolhe as pessoas que vem assistir a cerimônia. Os reis e os chefes das cidades vizinhas estão todos presentes ou enviaram representantes. As delegações chegam uma após a outra, acompanhadas por tocadores de tambores. Trocas de saudações, prosternações e danças sucedem-se como formas de cortesia recíproca, com animação crescente. Ao final da manhã, Ataojá, acompanhado pelo seu povo e pelos seus hóspedes, aproxima-se do rio e aí manda lançar oferendas e comidas, no mesmo lugar onde Larô o fizera outrora. Os peixes as disputam sob o olhar atento das sacerdotisas de Òsún. Ataojá dirige-se, a seguir, até as proximidades de um pequeno templo vizinho e senta-se sobre a pedra onde seu ancestral Larô havia repousado em outros tempos. A adivinhação é feita para saber se Òsún está satisfeita e se ela tem alguma vontade de exprimir. Ataojá volta em seguida para a clareira, onde recebe e trata seus convidados com uma generosidade digna da reputação de Òsún, a rainha de todos os rios.
É recomendável fazer sacrifícios de cabra a Òsún e oferecer-lhe pratos de Omolokun (mistura de cebolas, feijão de espécie fradinho, sal e camarões), de Adúm (farinha de milho misturada com mel de abelha e azeite doce). A sua dança lembra o comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora que vai ao rio para se banhar, enfeita-se com colares, agita os braços para fazer tilintar os seus braceletes, abana-se graciosamente e contempla-se com satisfação num espelho. O ritmo que acompanha as suas danças denomina-se Ijesá, nome de uma região da África, por onde corre o rio Òsún.

ORÍKÌ Òsún

Ìba Òsún sekese
Ìba Òsún olodi
Latojoki awede we’mo
Ìba Òsun ibu kole
Yeye kari
Latokoko awede we’mo
Yeye opo
O san rere o
Àse

Tradução:
Eu elogio a deusa do ministério, espírito que limpa de dentro para fora,
Eu elogio a deusa do rio
Espírito que limpa de dentro para fora
Eu elogio a deusa da sedução
Mãe do espelho
Espírito que limpa de dentro para fora
Mãe da abundância
Nós cantamos seus elogios
Axé

Orê Yeyê ô!

sábado, 7 de abril de 2012

SÒNGÓ


Sòngó é o Deus dos Raios, Deus da Justiça. Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o Òrìsà que decide sobre o bem e o mal. Sòngó é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitosos. Sàngó que gostava de ser elegante, a ponto de trancar seus cabelos, furos nos lóbulos de suas orelhas, onde usava sempre argolas. Ele usava colares de contas, braceletes. Pura elegância!!! . Era querreiro por profissão, não fazia prisioneiros no decurso de suas batalhas ( matava todos o seus inimigos ). Sòngó é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discurssão pela melhora, o progresso social e cultura, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado sangue azul, o poder de liderança. Para Sòngó, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a pena; o respeito pelo o Rei é o mais importante que o medo. Na África, se uma casa é atingida por um raio, o seu proprietário paga altas multas aos sacerdotes de Sòngó, pois se considera que ele incorreu na cólera do Deus. Logo depois os sacerdotes vão retirar os escombros e cavar o solo em busca do Edun Ara (Pedra de raio ) formadas pelo relâmpago.Pois seu asé está concentrado genericamente na pedras, mas principalmente naquelas resultantes da destruição provocada pelos raios, sendo o Meteorito é o seu Asé máximo.Seu Asé, portanto está concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Òrìsà. Só assentado em madeira, aonde vão alguns símbolos que o representa, tais como: Edun Ara (Pedras atingidas por raio, ou fragmentos de meteoritos), Oxê (Estátua de madeira, de um homem forte com formato de machado ), Sere ( Tipo de chocalho em cabaça pontuda ) ,onde dentro vai uma magia capaz de invocar a força dessa divindade e o Odó ( Pilão, onde é colocado a gamela com o Edun Ara, pois só assim pode ser o seu Ojubo ( Assentamento ) , se não provoca a fúria dessa divindade, pois ele em vida era tão forte que se sentava em cima do pilão.
Sòngó, que cresceu nas terras dos Tapas, local de origem de Torosí, sua mãe , a filha de Elempê, rei dos tapas;  e mais tarde se instalou na cidade de Kòso, mesmo rejeitado pelo seu povo, pelo seu caráter violento e incontrolável, mas sendo tirânico, se aclamou como Oba Kòso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu em Oyó, no bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu, e com isso manteve seu título de Oba Kòso. Dadá- Ajaká filho mais velho de Òránmíyán, irmão consanguíneo de Sòngó, reinava então em Oyó. Dadá é o nome dado pelos Yorubas às crianças cujos cabelos nascem em tufos que se frisam separadamente. Ele amava as crianças, a beleza das artes; de caráter calmo e pacífico... e não tinha a energia que se exigia de um verdadeiro chefe dessa época. Sàngó percebeu a franqueza de seu meio irmão Ajaká ( Também chamado de Dadá )  e sendo astuto e ávido por poder, destrona Ajaká e torna-se o terceiro Aláàfin de Oyó. Sàngó foi um mortal em sua vida no Àiyé, portanto quando morreu, tornou-se um egún.O que ocorreu em sua vida , foi que uma de suas esposas, a  única que o acompanhou em sua fuga de Oyó,era a divindade Oya, loucamente apaixonada por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de Òrìsà e o conduz diretamente a Olódùmarè,e por insistência de Oya, ele o ressuscita como uma divindade, já que em vida, Oya, perdida de amores, ensina-lhe vários segredos dos òrìsàs, principalmente o segredo do fogo que pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe dá este poder e outros, por amor.
Característica dos filhos de Sòngó
Com forte dose de energia e autoestima, os filhos de Sòngó têm consciência de que são importantes e respeitáveis, portanto quando emitem sua opinião é para encerrar definitivamente o assunto. Sua postura é sempre nobre, com a dignidade de um Rei. Gostam do poder e do saber, que são os grandes objetos de sua vaidade. Os filhos de Sòngó são obstinados, agem com estratégia o que querem. Tudo que fazem marca de alguma forma sua presença; fazem questão de viver ao lado de muita gente e têm pavor de ser esquecido, pois sempre presentes na memória de todos, sabem que continuarão vivos após a sua retirada estratégica. Tem temperamento ativo, expansivo e egocêntrico, são pessoas desprendidas, generosas e combativas; possuem um temperamento impulsivo, ambicionam posição e poder, além de serem caridosos com os infelizes e oprimidos, são ousados e cheios de iniciativa, quando se apaixonam, fazem o impossível para conquistar o ser amado. São diretos, sem rodeios, vão logo ao que interessa além de muito viril. São completamente mulherengos, seus filhos, portanto, costumam trazer esta marca, sejam homens,sejam mulheres ( que estão entre as mais ardentes do mundo ), são tidos como grandes conquistadores, são fortemente atraídos pelo sexo oposto e a conquista sexual assume papel importante em sua vida. Atrevidíssimos, não descansam enquanto não conseguem o que querem. Quem tem a proteção de Sòngó: não há nada nem ninguém que destrua um filho desse Òrìsà.Podem até conseguir levá-lo ao fundo do abismo, mas depois de algum tempo ele renasce com mais vigor e volta a enfrentar o mundo de peito aberto.Sem medo.
Sòngó é um Eborá, ou seja, teria caminhado sobre a terra com humanos, e sua família também ainda é cultuada na África. Nomes de Obás ( Reis ) de geração em geração da família de Sòngó.
1400 a.c aproximadamente Òránmíyán Aláàffin / Okambi / Àjàká / Sòngó /Àjàká /aganjú / Korì /Oluaso
1500 a.c  Onigbogi / Ofirin / Eguguojo / Orompoto / Abipa / Obalokun / Oluodo / Ajagbo / Odarawu / Karan / Jayin / Ayibi / Osiyago
1728 a.c  À 1888 Ojigi / gberu / Amuniwaiye / Onisile / Labisi / Awonbioju / Agboluaje / Majeobe / Abiodun / Awole Arogangan / Adebo / Makua / Vacant / Majotu / Amodo/ Oluewu / Atibala Atobatele / Adelu  - 1888 à 1905 d.c   Adeyemi I Alowolodu  Aláàffin.



Ervas e Folhas de Sòngó
Folha de Fortuna (ÀBÁMODÁ), Cambará, Umbaúba Branca ou vermelha, Jaqueira(APÁÒKÁ), Erva de São João(ÀRÚNSÀNSÁN),Alfavaca(EFÍNFÍN),Erva Tostão(ÉTINPÓNLÁ),Pimenta de Macaco(BEJEREKUN), Branda Fogo, Azedinha, Campainha, Jaborandi, Crista de Galo, Gerânio cheiroso, Capim Limão, Flamboyant(IGI ÒGUN BÈRÈKÈ), Carrapateira, Cinco Chagas, Alibé, (folhas e favas), Orobô(ORÓGBÓ), Castanha do Pará, Vence Demanda(OSÈ OBÁ) Oxibatá vermelho(ÒSÍBÀTÀ), Urucum, Cascaveleira, Cajueiro, Camboatá(LAMACIMALÉ), Cruzeirinho, Manjerona, Negra Mina, Salsaparrilha, Irôko ou Gameleira branca(ÌRÓKÒ), Lírio vermelho,Lírio branco(BALABÁ), Elevante(ERÉ TUNTÚN), Aroeira(ÀJÓBI), Beijo vermelho, Capeba, Erva Prata, Cipó Milomi(AKONIJÈ), Malva(EFIN), Para raio(IGÍ MÉSÀN), Panaceia, Manjericão Roxo,(EFÍNRIN PUPÁ) Pena de Xango, Melão de são Caetano(EJÌNRÌN), Fumo Bravo, Mulungu, Noz Moscada, Pau de Colher, Pau Pereira, pessegueiro, Pixirica, Romã(ÀGBÀ), Dormideira(ÁPÉJÈ), Taioba(BÀLÁ), Bambu amarelo, Tiririca, Aperta ruão(ÌYÈYÈ).

ÒRÌKÍ FUN SÒNGÓ 
SÁNGIRI-LÀGIRI,
OLÀGIRI-KÀKÀÀKÀ-KÍ IGBA EDUN BÒ
O JAJÚ MÓ NI KÓ TÓ PA NI JE
Ó KÉ KÀRÁ,KÉ KÒRÓ
S OLÓRÒ DÍ JÍNJÌNNI
ELÈYINJÚ INÁ
ABÁ WON JÀ MÀ JÈBI
IWO NÍ MO SÁ DI O
SÒNGÓ ONÁ MOGBA BI E TU BÁ WÓ ILE
BI SÒNGÓ BÁ WÓ ILE
JEJENE NI MÚ OSA GBOGBO


Tradução
Que racha e lasca paredes
Ele deixou a parede bem rachada e pôs ali duzentas pedras de raio
Ele ilha assustadoramente para pessoas antes de castigá-las
Ele fala com todo o corpo
Ele faz com que as pessoas fique com medo
Seus olhos são vermelhos como brasas
Aquele que briga as pessoas sem ser condenado porque nunca briga injustamente
E em ti que busco meu refúgio
Se um antílope entrar na casa
A cabra sentirá medo
Se xangô entrar na casa
Todos os orixás sentirão medo     
                        
Kawó Kabiyèsíle ( Venham ver o Rei descer sobre a terra ) 
Kabiyesi Sàngó, Kawó Kabiyesi Sàngó Obá Kossô!
Vamos todos ver e saudar xangô, rei de Kossô!